terça-feira, 8 de julho de 2008

Independência “da” Bahia

Ou: Dia de protestos, homenagens e fé
Ou: Vai chorar no pé do caboclo


No início deste mês, a Bahia (leia-se EsseEsseÁ e Recôncavo) festejou a sua data mais querida: o dia da Independência. Para nós baianos (soteropolitanos) é o dia mais festivo, mais alegre, mais cívico do ano... mais até que o 7 de setembro. Eu e a maioria dos baianos (soteropolitanos) - por desconhecimento, por bairrismo ou por sacanagem mesmo - passamos a maior parte da vida chamando dia 2 de julho como o da Independência da Bahia. Não é.

Ou é mais ou menos. Tudo depende do complemento: pode ser Independência da Bahia do domínio português ou Independência do Brasil do domínio português na Bahia. Afinal, se o grito do outro foi dado às margens do Ipiranga, em EssePê, em 7 de setembro de 1822, os portugueses só levaram o pé na bunda definitivo na Bahia em julho de 1823. Diferentemente do que aconteceu lá, aqui o movimento custou vidas e foi conquistada à bala.

Enfim, 185 anos depois, o 2 de julho é considerada uma festa do povo de marré marré marré. A classe média baiana (soteropolitana) de marré derci vai cultuar seus caboclos o shopping. Por isso, tem de tudo: desfile de autoridades (quando vivo, ACM não perdia um desfile; Lula quando estava em campanha também vinha; Heloísa Helena não perde mais) protestos, irreverência, bandeirinhas da Bahia tremulando em cada canto, missa na Catedral Basílica, alvorada de fogos, ou seja, um espetáculo fofo de civismo.

Tem até fogo simbólico, como nas Olimpíadas, tá! Depois de sair de Cachoeira e passar por cinco cidades a chama que simboliza a união dos povos que lutaram é levada pelas ruas até chegar ao monumento da independência, no bairro do Campo Grande. Acho digno.

Gente nas ruas e nas sacadas dos prédios

As casas ruas do centro histórico se enfeitam e milhares de pessoas festejam as figuras mais carismáticas da festa, o Caboclo e a Cabocla, criadas para homenagear os batalhões e os heróis de 1823. As figuras - primeiro ele, 20 anos depois ela – surgiram porque o povo resolveu fazer naquela época sua própria comemoração e levou uma escultura de um índio para representar as tropas, já que não poderia ser um homem branco, porque lembrava os portugueses, nem os negros que não eram valorizados.


Baianinha cívica e "dragão" baiano

Enfim, além de admiradas, para os religiosos a dupla também é sinônimo de fé. Muita gente vai pedir benção aos caboclos, solicitar auxílio ou simplesmente agradecer as graças alcançadas. Daí surgiu a expressão popular onde, quando alguém reclama muito da vida, recebe como resposta: vai chorar no pé do caboclo! Detalhe: as homenagens aos índios se disseminam também por terreiros que cultuam os caboclos.

Modelito das fanfarras: um show de criatividade

Entretanto, a diversidade do Dois de Julho, vai muito, muito além disso. Depois das vaias ou palmas que os políticos recebem, a festa ganha as ruas com o desfile das fanfarras. É uma criatividade fora do comum e diversão na certa. Em determinado ponto do desfile, alguns chegam a dizer que é a segunda Parada Gay baiana.

Última tendência. Acho digno!

É uma pena o Brasil não valoriza este evento. Poucas pessoas fora da Bahia conhecem o Dois de julho. Uma falha enorme de informação histórica, pois se trata do processo de independência deste país. Mais que isso: é uma festa para participar. Só sabe do que se trata quem vai lá, quem vê o interesse do povo em festejar e manter a tradição. E é um momento para entender um pouquinho por que o povo festeja um carro com um caboclo, que aponta uma lança para um dragão, e tem a presença de, entre outras figuras, anjos barrocos. Só se vê na Bahia.

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