domingo, 29 de junho de 2008

Coração de mãe

Ou: Sempre cabe mais um

A disputa pela prefeitura de EsseEsseÁ está ganhando cada vez mais ares de uma novela de realismo fantástico. Daquelas que tem como cenário Macondo, de Gabriel Garcia Marques; ou então, o enredo de Os Mutantes, da Record. Mas, como diz o slogan “Só se vê na Bahia”, estamos em casa. Tenho que admitir. O governador deste Estado, o galeguinho dos óio azul, Jaques Wagner (PT), está simplesmente apoiando três candidatos. Ao mesmo tempo: o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), o atual (afff!!) prefeito João Henrique (PMDB – leia-se Geddel Vieira Lima) e Walter Pinheiro (PT). Eu preciso urgentemente de um remédio tarja preta, porque estou ficando esquizofrênico. Adoro política. Faz um bem danado pra gente.

O único que ficou fora do coração de mãe de Wagner foi ACM Neto (DEM), apoiado pelo popular radialista local, Raimundo Varela. Este, após criar grande expectativa e disse-me-disse pela sua candidatura, viu que não teria grandes chances.

O galeguinho conseguiu um feito literalmente inacreditável em 2006. Contra todos os prognósticos realizados na época, venceu o candidato de ACM, Paulo Souto, e tornou-se o primeiro governador após 16 anos de carlismo. Amigo de Lula-lá (já foi ministro), aposta na tese da afinidade política União-Estado-Município. Porém, pergunto-me: Qual o resultado prático dessa ação na cabecinha dos eleitores? Que qualquer candidato que receber meu (seu) voto, mesmo com... digamos.... maneiras completamente diferentes de governar, estará apto à prefeitura de EsseEsseÁ e será apoiado pelo Estado? E se ACM Neto ganhar, vai rolar boicote?

Jaques Wagner aposta na vitória de um dos seus três candidatos


O que está por traz dessa indecisão (esperteza?) política? Medo de perder apoio dos partidos aliados na Assembléia Legislativa e, assim, inviabilizar o governo? Enfim... as armações, no bom sentido (se há bom sentido em armação política), estão aí. Pena que a vereadora Olívia Santana, do PC do B, desistiu da candidatura. Gritou, esperneou, disse que não ia abandonar o sonho de ser governante dessa cidade, etc. No final, depois de uma conversinha com o governador e em prol do bem coletivo, cedeu: apoiará a chapa encabeçada pelos petistas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Reflexão # 17

Ou: Imigração x Escravião

Algum dia os negros africanos terão a dignidade das homenagens que os japoneses estão tendo nesse país?

"Brazil lindo, né?", diz príncepe Naruhito ao quebrar o protocolo pela 235ª vez

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Armação ilimitada

Ou: O morro não tem vez
Ou: Crônica de uma morte anunciada
Ou: Café de pobre
Ou: “Estou cagando para o capitão”



Definitivamente, a capacidade de maldade do ser humano é infinita. E o circo armado especificamente por políticos após as tragédias anunciadas, ilimitado. O assassinato de três jovens no Rio de Janeiro é o mais novo fato chocante da semana. Após serem abordados na madrugada de sábado quando chegavam de um baile funk por militares em uma praça do morro da Providência, no Rrrrrrrio, e levados para um quartel do Exercito, os rapazes apareceram mortos, no domingo. Seus corpos foram encontrados em um lixão, crivados de balas. O que aconteceu?

Simplesmente (simples assim!) os jovens foram seqüestrados pelos militares - 11 ao todo - e entregues a traficantes do morro da Mineira, rival da facção criminosa que comanda a Providência. De acordo com matéria publicada na Folha de S. Paulo, moradores relataram que de 10 a 30 criminosos (o número varia conforme o grupo de testemunhas) receberam o presente de sorriso largo e comandaram, então, uma sessão de torturas, com paulada, socos e chutes.

Tudo isso porque, após prenderem os jovens por suposto desacato, o tenente de 25 anos que comandava a operação não aceitou a ordem superior de um capitão de liberá-los. Segundo um delegado que investiga o caso, um dos soldados do Exército que fazia parte da equipe que entregou os jovens disse que o tenente, após deixar o quartel, disse que "estava cagando para o capitão" e por isso levaria os jovens para o Morro da Mineira para dar a eles um corretivo. O mais chocante é que os todos personagens dessa crônica têm, vítimas e algozes, no máximo, 25 anos.

Café sem açúcar

Tão chocante para mim quanto o fato dos jovens serem entregues como presente por militares a traficantes, foi o fato do ministro da Defesa ter ido tomar cafezinho no morro. Solidariedade é importante nesse momento, claro. Mas não consigo engolir a imagem de Jobim subindo o morro, ao lado de 40 soldados e 10 seguranças, para prestar conforto às famílias. Lembro quando ele também foi conferir pessoalmente a pista de Congonhas no episódio do apagão aéreo.

- Pode ficar despreocupada... vamos proteger todos vocês

Pois bem, em uma casa do morro da tia de um dos jovens mortos, o ministro tomou um copo de café, sem olhar para a dona da casa ou para o líquido que está ingerindo. Tudo devidamente registrado pelas câmeras de TV e lentes dos fotógrafos. O importante, nesses casos, é o cenário. Ela, ao lado, encarando o homem engravatado, rígido, afirma: - Foi meu sobrinho que morreu. Ele responde: - Eu sei, tomando um gole de café como se fosse “pinga”, assim, de vez. Ela reitera: - Foi meu sobrinho. Talvez ela achou que ele não escutou ou pensou que tinha que repetir a fala. Ele responde, dando o último gole: - Eu sei, vamos resolver.

Talvez seja aquele o único momento em que ela pode ser ouvida e vista pelas autoridades. Em depoimento, Sueli Ribeiro, 58, como é o nome da hospitaleira dona-de-casa, falou para os jornalistas sobre a visita do ministro: "Disse para ele dos abusos do Exército aqui dentro e ele disse que para a gente ficar tranqüilo, que já estavam tomando providências", disse ela. "Ele tomou café sem açúcar, café de pobre".

Essa é mais uma crônica brasileira. Triste país. Pobres cidadãos.