sexta-feira, 27 de maio de 2005

Niver

Ou, como diz Armandinho (Dodô e Osmar): Vamos relembrar!!!

Danielicius completou ontem, 26, um ano de muita informação útil, inútil, baixaria, polêmica, futilidades e novidades da terrinha da felicidade. No primeiro post, eu disse: Bem vindo ao Danielicius World! Com o tempo, saberemos eu e vocês o que significa isso”. Pois bem... até hoje não sei a cara disso aqui, meio esquizofrênica até. Pelo menos tirei a pretensão do world. Se bem que é um blog geminiano, não poderia ser diferente.

- Como não gostar do Danielicius? Eu estreei isso aqui!

Seção Vale a pena ver de novo - O problema do passado é que as fotos se foram e os comentários idem... (que drama!) Em junho, publiquei três textos com o título Abale-se, perguntando “O que é que Pretinha, Amanda Lee e a sereia de Maceió têm em comum”. Nele, procurei saber como andava a oferta de encontros pessoais em Salvador com base nos anúncios classificados. As descrições foram uma comédia à parte. (Vou ver se ainda são os mesmos tipos, hehe!)Eu estava a todo gás, os textos homéricos, como “No Rrrio, tocha olímpica. Em Essepê, parada gay. E daí?”, em que eu descobri as bandas de pagode da cidade baixa. Em julho, teve Tati Quebra-Barraco e Nara Costa, a rainha do Arrocha. Tudo novidade compartilhada. Hoje, não ouço falar de ninguém, a não ser raramente de Tati. Também teve o show de Ângela Ro Rô, que deu o que falar e o aniversário da Barbie.
- Quer dizer que você ainda não leu o Danielicius?

Em agosto, começaram as Olimpíadas de Atenas (onde o Brasil queria se redimir através da ginasta Daiane) e o início da campanha para prefeito. No texto “O amor... Ah, o amor...” argumento sobre a paixão e digo: “A questão, ou o caso, é que o sentimento, o estar apaixonado, é um dos maiores causadores de sofrimento da humanidade”. Hoje, ainda acho a paixão perigosa. Me apaixonei no início deste ano e não foi nada legal. Também foi em agosto que um ser humano trancou outros seres humanos dentro de um supermercado e deixou que todos queimassem vivos. Titia Madonna fez aniversário e Seu Sílvio estreou protagonista de Novelas. Aliás, cadê eles, hein? Revirar o passado dá nisso.

- Só sai no Danielicius quem tá na moda. Ééééée!

Em setembro, Marlenão e Tio Silvio estavam aprontando todas, respectivamente, na Band e no SBT. Preta Gil estava na moda e percebi que assistir moda baiana nunca foi tão divertido. Nesse mês eu acho que estava em crise... não me lembro... escrevi muitos textos estranhos: muita poesia, muito azeite. O Rrrio estava em inferno astral. Normal, não é mesmo?

- Nós temos medo

Outubro eu falo na Reflexão # 6 sobre a possibilidade de se viver com uma pessoa culturalmente diferente de nós mesmos. Termino assim: “eu poderia citar diversas relações (que eu conheço, vejo ou pelas quais passei) em que o casal simplesmente não tem papo. Acabou o tesão, acabou a relação. Uma coisinha, assim, tipo balada, entende? Mas aí, por outro lado, quando você vê um casal super entrosado, percebe que existe um interesse comum em jogo”. Pois é, casa de ferreiro, espeto de pau! Não é que estou vivendo uma relação desse tipo (sem papo) há mais de um mês? Também falo sobre a eleição em EsseEsseÁ, que foi pura farra. Estéia Kill Bill 1.

- Quero bem longe de mim!

Em Novembro, os americanos vão às urnas e votam em Bush. O mundo os chama de idiotas. Assim como eu falo mal daqueles que acreditam no termo pseudo-heterossexual “metrossexual”. Estréia O Aprendiz, com Justus e Má Educação, de Almodóvar. Por quem eu estava apaixonado nessa época? Eu coloquei uma música de Lulu em homenagem a alguém...Ai, não me lembro! Quem foi? Enfim... Faço texto sobre a Consciência Negra e sobre minha pretensão de pular de pára-quedas nas férias.

- Eu recomendo.

Em Dezembro, escrevo pouquíssimo no blog. Tinha mais o que fazer. EsseEsseÁ já estava em festa, muita gente nova na cidade. Janeiro: mais festa, mais praia, muita paquera. Tudo muito comprimido e rápido. 20 anos de axé. Festival de verão, carnaval. Eu encontrei o 245º amor de minha vida. Disse: “É interessante o estado que as coisas tomam quando alguém especial toma lugar na sua vida. Ainda mais se isso acontecer por conta de uma série de boas e más coincidências, o que torna a história mais cheia de detalhes e signos. Até a poeira assentar, o carnaval de emoções se organizar, e a maré de pensamentos incertos atingir um nível aceitável, eu não sou mais eu. Estou mutante, ator e platéia deste novo ato“ Eu digo: Oxê, não me reconheço.

-Eu acho melhor do que sanduíche-íche.

Em fevereiro, eu volto das férias com preguiça monumental em escrever no blog. Estava achando um saco. Mas aí paulistas, cariocas, Caetano Veloso e Cicarelli me deram material para novos posts. O falecido papa João Paulo II apareceu pela primeira vez. Eu achava que seria a última. Também teve o caso das meninas que fugiram para EsseEsseÁ em busca de sossego para o amor proibido.

- Eu acho super digno

Março foi o mês de Severino Cavalcanti e dos deputados que queriam aumentar os próprios salários. Dia das Mulheres. No final da novela mais chata que eu assisti e que fez o maior sucesso de audiência, fiz um texto existencialista. Encontro uma figurinha pelas festinhas da vida e a história vira um post. Jean vence o BBB5 e as pessoas começam a falar que gay também é humano e tem sentimentos. O mago Paulo Coelho ganha todas as capas nacionais.
- Sabe, gente que não tem o que fazer e fica falando mal dos outros?

Abril: muita chuva, texto polêmico sobre a morte do papa, casamento de Charles, aniversário da Globo. Meu recorde de posts: quatro. Maio está aí pra todo mundo ver. Aliás, a galera que frequentou e frequenta isto aqui é demais, o melhor de se ter um "diário virtual". Fiz alguns amigos virtuais e outros que já estão presentes na minha vida também fisicamente. Pessoas com quem compartilhei sensações e seguraram a onda elegantemente. Parabéns!
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terça-feira, 17 de maio de 2005

Santa Súbita

Vou começar este texto com uma pergunta: Você acha que tudo neste mundo é relativo? Sim? Não? Depende? Eu, particularmente, acho que sim. Embora tenha clareza meridional (adoro este termo!) de que as palavras tudo, nada, sempre e nunca são muito perigosas. Ameaçam fatalmente do cóccix até o pescoço aquele que se atreve a pronunciá-las. Mas uma coisa é certa: quando alguém, neste mundo democrático de Deus, lhe disser enfaticamente “não pode”, “não faça”, “não entre”, porque é lei, porque está escrito assim e assado, e todos, absolutamente todos, sem exceção, devem seguir a lei e as regras, isso significa simplesmente que Você, reles mortal, sem nenhum relacionamento nem conhecimento de alguém poderoso e/ou influente, deve obedecer. Sabe aquele mantra materno: “Faça o que eu mando, não faça o que eu faço”. Pois é.

É aquela coisa: para uns a barreira; para outros, a facilidade. É injusto? É. Mas é a realidade e a Justiça, pelo que vemos, é relativa. Ou não é? Algum Candido aí? Sexta-feira, 13, o papa Bento 16 anunciou o início do processo de beatificação de seu antecessor, João Paulo 2º, que morreu no dia 2 de abril, aos 84 anos. Segundo o direito canônico, o processo de beatificação de qualquer pessoa deve ser iniciado após o prazo de cinco anos após a sua morte. Só que Bento 16 (Vaticano) deu um jeitinho de passar por cima da exigência e acelerou o processo de beatificação de João de Deus, cujo corpo ainda não esfriou (nem os ânimos, diga-se). A decisão, naturalmente, foi bem recebida pelo clero e pelos fiéis católicos.

Irmã Dulce e seus "filhos"

A beatificação é a etapa que precede a canonização e deve incluir a prova dos milagres feitos pelo beato antes ou depois de sua morte. Várias pessoas estão aparecendo dizendo que testemunham curas milagrosas atribuídas a João Paulo 2º. Ouvi ou li em algum lugar que teve gente que se disse curada ao ver o papa pela televisão! Da mesma maneira, várias pessoas já apareceram dizendo a mesma coisa com relação à Irmã Dulce, cujo processo está emperrado no Vaticano desde 2001. Está na fase do A Positio. Irmã Dulce, chamada carinhosamente de “O anjo bom do Brasil”, morreu em 1992. Considero Maria Rita Lopes Pontes, essa sim, uma referência de amor ao próximo, de dedicação e respeito integral ao outro.

Nascida em EsseEsseÁ em 26 de maio de 1914, aos 13 anos, ela, ainda pirralha, transformou a casa da família num centro de atendimento a pessoas carentes. Imaginem a cena! Depois de ordenada freira, aos 20 anos começou a dar assistência à comunidade pobre de Alagados (vocês devem conhecer por causa das palafitas) e de Itapagipe, região pobre onde fica a badalada Igreja do Bonfim. No final da década de 30, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Cidade Baixa para abrigar doentes que recolhia nas ruas. Expulsa do lugar pelo poder público (aquele mesmo que anos mais tarde vai ajudá-la e colar nela feito sanguessuga), ela peregrinou durante uma década, levando os seus doentes por vários lugares, até, por fim, instalá-los em um galinheiro do Convento Santo Antônio, que improvisou em albergue e que deu origem ao Hospital Santo Antonio. O hospital foi o embrião daquilo que se transformaria na maior unidade filantrópica de saúde do Norte e Nordeste.

Com madre Tereza de Calcutá e João Paulo II, já debilitada

Só para vocês terem uma idéia, porque só vendo pra crer, as Obras Sociais de Irmã Dulce são responsáveis pelo maior volume de atendimentos feitos na Bahia. Por ano, são realizados mais de dois milhões. Todos de graça. Dá pra sacar que é a última porta para os necessitados. E é mesmo. A galera pobre não tem para onde ir aqui na Bahia, se quiser um atendimento de qualidade. Trabalham na instituição 1.700 profissionais, 400 médicos e cerca de 300 voluntários. E como vive a OSID? De parceriais com instituições, órgãos e empresas de diversos segmentos, que ajudam por meio de convênios, patrocínio de projetos, divulgação, apoio diversos e doações. No último dia 03 de maio, a OSID ganhou o Prêmio Bem Eficiente da Kanitz & Associados. Foi a única instituição baiana e uma das duas únicas do Norte-Nordeste premiadas com o prêmio, outorgado anualmente às 50 entidades beneficentes mais bem administradas do país.

Além do atendimento a saúde, as obras têm atuação também nas áreas de assistência social e educação. São ao todo 13 núcleos. Se destacam o Hospital da Criança (Inaugurado em dezembro de 2000, tornou-se referência pelo serviço do Centro de Atenção às Vítimas de Maus Tratos), o Centro Geriátrico (Referência do Ministério da Saúde no atendimento ao idoso), o Centro Médico e Social Augusto Lopes Pontes (que atende a indigentes e moradores de rua) e o Centro Educacional Santo Antônio. Nas suas dependências, 600 crianças de 1ª a 8ª série são atendidas em regime integral. Na escola, tudo é gratuito: alimentação, uniforme, material didático, assistência odontológica e programa de esportes. Se quiser saber mais, clique aqui.

O adeus à Irma Dulce nas ruas de Salvador

Mas não é só isso. Na OSID está o Memorial de Irmã Dulce (MID), uma exposição permanente que tem a função de guardar o legado da freira. Inaugurado em 1993, um ano após sua morte, o núcleo recebe cerca de 20 mil visitas anuais. Lá, estão guardados o hábito usado por ela, fotografias, documentos e objetos pessoais. Nele ainda é preservado intacto o quarto de Irmã Dulce, onde está a cadeira na qual ela dormiu por mais de trinta anos por conta de uma promessa. É impressionante a cena. Todos os dias tem gente fazendo fila para visitar o Memorial, que se transformou em local de peregrinação. A prefeitura de EsseEsseÁ deseja incluir a capital baiana no roteiro do turismo religioso.

O Brasil, país com maior número de católicos no mundo, não tem nenhum santo. Não que eu ache isso importante. Não acho. Até porque o processo para as vias de fato no Vaticano é bastante caro. Bem mais caro que a missa de domingo da paróquia. Se o processo andar um pouco mais rápido, Irmã Dulce pode vir a ser a primeira santa com nacionalidade brasileira. Madre Paulina, canonizada em 2003, era italiana de nascimento. É aquela coisa: para uns boa vontade. Para outros, as leis e regras devem ser cumpridas.
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segunda-feira, 16 de maio de 2005

Queissassim.

Da série: Eu não estava (nem estou) preparado para ver/ouvir isso.

* Velhinha dando uma de atendente de telemarketing e fazendo propaganda de financiamento em 3.254 vezes para aposentados de um banco aí.
Ela está de costas atendendo alguém com o head phone, depois vira para a câmera e começa a falar as maravilhas do crédito. Fiquei paralisado de medo. Pensei que a dentadura dela ia sair da boca. Foram os piores trinta segundos da minha vida. Fico pensando toda hora nisso. Depois de supermercados e operadoras de celular, este tipo de aparição está cada vez mais comum. Ainda prefiro os atores caras de pau da Globo.
* Cabelo do Jorge Benjor na propaganda da Chevrolet.
* A Chevrotet dizendo “Conte comigo”.
* O Unibanco dizendo “Nem parece banco”.
* O Banco do Brasil dizendo "O tempo todo com você".
* Luize, garota propaganda da Vokswagen, falando.
* O filme Carrie, a Estranha. Passou na sexta, 13, no SBT.
Assisti do início ao final e (detalhe!) eu não queria perder nenhuma cena. Logo eu, que não suporto esses filmes com atores insossos que tremem a cabeça para mostrar nervosismo ou qualquer outro sentimento. No filme, uma jovem dotada de poderes extra-sensoriais é rejeitada por todos. Resultado: Carrie White mata quase todo mundo. Descobri que aquilo que eu assisti foi uma refilmagem. A primeira versão de Carrie foi realizada em 76, com Brian De Palma. Ele recebeu dois Oscars. A que passou no SBT foi de um ilustre desconhecido, um lixo. Depois dessa, eu digo: eu não me conheço!
* Jean Willys dizendo que é intelectual pela centésima vez. Quando olho para a cara dele, acho que está nos sacaneando.
* Adriane Galisteu em Chica da Silva. Aliás, eu não estou preparado para ver nenhum personagem daquela novela.
* Fabiano Augusto (garoto-propaganda das Casas Bahia) e o clone dele de saias já estou acostumado. O que eu não estou preparado é para a "criatividade" dos comerciais. E olhe que nem tem Casas Bahia aqui em EsseEsseÁ.

Os intervalos comerciais que mais me deixam de cabelo arrepiado são os do SBT, Record e Band. Nessa ordem. Alguém faz alguma coisa, por favor! Será que posso entrar com um processo por danos morais?
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sexta-feira, 13 de maio de 2005

Bang Bang, my baby shot me down

Ou: Como eu disse no post Soberbamente Daniella, de 16/02, o mundo dá voltas

E a Cicarelli, heim? Será que o mundo encantado dela acabou, aquele lembra? em que ela estava andando e cagando pra todo mundo? Será que sua condição de celebridade de primeira grandeza continuará? Será? Será? Bem... para dizer a verdade, não me interessa nem um pouco. Ou, como diria uma amiga minha: “estou pouco me lixando”. Mas a história contada por aí que ela vai embolsar R$ 15 milhões por ter ficado três meses com Ronadinho não desce pela minha garganta. Se for para embolsar tudo isso, até eu quero um Ronaldinho por três meses. Como disse José Simão: “Antes, o casamento era loteria, agora ele é prêmio de loteria”.

Para escanteio: O kibeloco não perdoa

É por isso que eu digo: amor incondicional, daqueles desinteressados mesmo, só com o seu cachorro. Discorda? Então vejamos a uma historinha: Barbara tem um cachorrinho vira-lata chamado Caco. Barbara não pretende nada de Caco. Nem mesmo amor exige. Nunca precisou fazer as perguntas que atormentam os casais humanos: "será que ele me ama?", "Será que gosta mais de mim do que eu dele?", "Terá gostado de alguém mais do que de mim?". Todas essas perguntas que interrogam o amor, o avaliam, o investigam, o examinam, e, por que não?, ameaçam destruí-lo no próprio embrião.

Acredito que, se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença.

Mais uma coisa: Barbara aceita Caco tal qual é, não procura torná-lo sua imagem, aceitou de saída seu universo de cachorro, não deseja confiscar nada dele, não sente ciúmes de suas tendências secretas. Se o educa, não é para mudá-lo (como um homem quer mudar sua mulher ou uma mulher seu homem), mas apenas para ensinar-lhe uma linguagem elementar que lhes facilite a convivência e a compreensão.

Ou seja, é um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, incondicional. Acertei? Dizem que Cicarelli ficava vermelha de ciúmes por causa de Ronaldo. Mas, sabe de uma coisa: não entendo como um cara quer curtir a vida e casar. Não já viu que não combina? Mais uma de Simão: "Imagine a Bocarelli mandando no Ronaldo com aquela voz grossa: Baixa a tampa da privada! Me dá o controle remoto! Junto, Ronaldo. Já pra caixa e não solta pêlo!".

Bem... a história do cachorro não teve nada a ver com Ronaldinho, hein? Brincadeirinhas à parte, é aquela coisa: que seja eterno enquanto dure. Ou não é assim que levamos nossa vida moderna? Para quê segurar aquela onda que não se quer mais surfar? (Se não valer a pena, é claro! Respeito em primeiro lugar). É por isso que não dou satisfação de minha vida pra ninguém ficar discutinho em botequim. Mas, aqui entre nós, eu também não sou celebridade, não é mesmo?

Bang Bang, Nancy Sinatra.
I was five and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He would always win the fight

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down.

Seasons came and changed the time
When I grew up, I called him mine
He would always laugh and say
"Remember when we used to play?"

Bang bang, I shot you down
Bang bang, you hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, I used to shoot you down.

Music played, and people sang
Just for me, the church bells rang.

Now he´s gone, I don´t know why
And till this day, sometimes I cry
He didn´t even say goodbye
He didn´t take the time to lie.

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down...

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terça-feira, 10 de maio de 2005

Palavras ao vento

Enfim, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos teve a sensatez de retirar de circulação e engavetar (espero que para sempre), na semana passada, a cartilha de palavras, segundo ela, politicamente corretas. O órgão esperava que, com esse índex de palavras e expressões a serem evitadas, o brasileiro se tornaria um exemplo de civilidade. O livro reunia 96 palavras, expressões e piadas consideradas pejorativas e discriminatórias contra mulheres, negros, homossexuais e portadores de deficiência física, entre outros grupos sociais.

Termos como sapatão, veado (que na verdade é viado, de desviado! oh, ceús!!), turco, barbeiro, beata, palhaço, baianada, baitola e louco deveriam ser evitados por formadores de opinião e mídia no dia a dia. O livro condena também expressões como ‘‘mulher no volante, perigo constante’’, ‘‘preto de alma branca’’, ‘‘a coisa ficou preta’’ e ‘‘farinha do mesmo saco’’. Até funcionário público entrou na jogada. O nome correto é servidor público, senão soa agressivo. Entenderam?

- Mas como ninguém quer sentar o traseiro na cadeira e decorar 96 palavras?

Além da perda de tempo, desperdício de dinheiro, brainstorm de mentes opacas, manifestação de ânimo autoritário, macaquice de imitação, a maior impropriedade dessa ação talvez seja ter sido feita exatamente no governo de um presidente que é um monumento ao politicamente incorreto. O presidente Lula é uma máquina de falar besteira. Dora Kramer fez uma lista com alguns dos hits inesquecíveis de gafes do presidente nestes últimos dois anos. É de chorar... E o que é Severino Cavalcanti, heim, minha gente?

Como bem disse o jornalistaZuenir Ventura, o governo desconheceu o fato de que as palavras têm história, contexto, dimensão afetiva e que ao longo da vida se transformam, mudam de sentido e são capazes até de perder uma carga originalmente ofensiva para adquirir outra contrária. A publicação com expressões consideradas pejorativas foi duramente criticada por intelectuais, sendo o escritor João Ubaldo Ribeiro o mais enfático deles.Não podemos aceitar esse delírio totalitário, autoritário, preconceituoso (ele, sim), asnático, deletério e potencialmente destrutivo -- e, o que é pior, custeado com o nosso dinheiro. Que está acontecendo neste país? Aonde vamos, nesse passo? Quanto tempo falta para que os burocratas desocupados que incham a máquina governamental regulem nossa conduta sexual doméstica ou nosso uso de instalações sanitárias?”, disse. Tutty Vasques diz que as pessoas não compreenderam as palavras do baiano.

Do jeito que as coisas vão, não dá nem para defender o governo. Eu mesmo já joguei a toalha. Mas, para não perder o gancho, listo algumas palavras usadas no dia a dia que Deus dá convertidas para a linguagem politicamente correta. Muitas definições são adaptadas do “Dicionário do Politicamente Correto”, de Henry Beard e Christopher Cerf, da L&PM Editores. Algumas são hilárias.

ANÃO (serve também para “baixinho” ou “tampinha”) – Palavra claramente pejorativa. Melhor dizer pessoa verticalmente prejudicada; também são aceitáveis pessoa verticalmente desavantajada ou verticalmente comprimida.
CARECA - Expressão humilhante, particulamente quando usada como ponto de referência (como em “fale com a pessoa ao lado daquele careca ali”). Dizer, em vez disso: pessoa com proposta capilar alternativa; pessoa capilarmente desavantajada; portador de um tipo especial de organização capilar (não serve para marchinhas de carnaval: os tradutores do livro citado sugerem, por exemplo, cantar “é dos que têm proposta capilar alternativa que elas gostam mais!”. Não funciona, vocês não acham?)
CABEÇA-DE-VENTO - Expressão destruidora da auto-estima das pessoas. Substituir por indivíduo cérebro-atmosférico.
CD PIRATA – Expressão muito crua. Em Salvador, um vendedor de CDs copiados anuncia pelos bares o “genérico da música”. E explica: custa mais barato e tem o mesmo efeito.
DESEMPREGADO - Não-assalariado, pessoa que goza de lazer involuntário, indefinidamente inativo, temporariamente deslocado do mercado de trabalho, privado de vocação, em transição entre carreiras.
FEIO – Palavra agressiva. O recomendável, para preservar a auto-estima dos assim designados, é chamá-los de cosmeticamente diferentes. A história infantil famosa, em versão politicamente correta, deveria ser “O Patinho Cosmeticamente Diferente”, lembram os autores.
GORDO – Também é agressiva. Melhor dizer pessoa de porte avantajado ou horizontalmente avantajada; pessoa de substância. No Norte-Nordeste do Brasil, usa-se dizer que uma pessoa de porte avantajado é “forte”, o que denota uma sensibiidade altamente desenvolvida para a correção política: transforma-se uma característica potencialmente negativa e danificadora da auto-estima num traço positivo.
MUDO – Indivíduo vocalmente desafortunado, ou oralmente prejudicado.
MORTO – Pessoa terminalmente prejudicada. Pessoa não-viva.
PESCA – Atividade criminosa que resulta na opressão e/ou extinção genocida das criaturas ictio-americanas. Criaturas ictio-americanas é o nome politicamente correto dos peixes que vivem em águas do continente americano (esta é uma obra-prima; Romário e a torcida do Santos precisam saber disso).
SURUBA – Poligamia consensual.
VELHO – Maduro, experiente; cronologicamente abastado.

...E por aí vai. Não há limites. Quando a gente começa a prestar atenção, descobre que toda a nossa linguagem está contaminada pelo preconceito. Quem tiver mais exemplos, que mande para o governo. Assim, vamos ajudá-lo a resolver todos os problemas do país mudando as palavras que os nomeiam. Correção política na linguagem é isso.
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segunda-feira, 9 de maio de 2005

Em nome de Deus

Ou: O elfo Legolas faz tipo na Idade Média

Tá bem... admito que eu sou do tipo de pessoa que gosta de filmes épicos, daqueles bem “sandália e areia” mesmo. Por isso que no último sábado fui assistir ao filme Cruzada (Kingdom of heaven), dirigido por Ridley Scott, e, posso dizer, saí de lá sem mal dizer nem praguejar ninguém. Até os adolescentes se comportaram como há muito tempo eu não via. E cá pra nós: depois de filmes como Tróia e Alexandre, que estragaram idéias que poderiam se transformar em filmes interessantes, Cruzada é uma película competente, com tomadas elegantes. Se não é genial, também não é nenhuma bomba.

Legolas na Idade Média

O filme é uma daquelas fitas americanas que ganha matéria em todas as revistas e jornais e tomam mais de 50% das salas de cinema de qualquer cidade. Ou seja: tem muita grana envolvida. Mas isso as outras também tiveram. A diferença é que Cruzada foi bem dirigida e conta com um tema que eu “adoro”, como já puderam notar: Igreja.

A fita é estrelada pelo elfo Orlando Bloom, o Legolas de Senhor dos Anéis. Ele está fantasiado de habitante da Idade das Trevas, ops!, Idade Média, época em que a Igreja (ou aqueles que a formava) decidia quem iria para o Reino dos Céus ou, então, queimar no Inferno eternamente. Por causa desse poder e “Em nome de Deus”, ela instigou as Cruzadas, movimento militar católico que partiu de cidades européias em direção as terras santas (Constantinopla e Jerusalém), então sob domínio muçulmano. Essas ações produziram durante séculos massacres de civis, sempre justificados como sendo vontade de Deus. “Matar os infiéis em nome de Deus não é pecado, mas caminho para a salvação”, diz um padre aos cruzados no filme.

Scott está sendo questionado pela mídia sobre a forma como abordou católicos e muçulmanos no filme. Alguém desavisado pode fazer um parelalo com os dias atuais. Por que? Porque alguns personagens muçulmanos, como Saladino, por exemplo, que vai retomar Jerusalém dos católicos, saem engrandecidos no filme. Isso é raro em produções hollywoodianas. Cruzadas prega ainda que a diplomacia ainda é a melhor estratégia para os seculares conflitos do Oriente Médio. Outro discurso que não combina em nada com os dias atuais.

De acordo com a revista Época, Scott enfrentou a pressão da Fox, um dos braços do conglomerado controlado pelo magnata australiano da mídia Rupert Murdoch, grande aliado do governo Bush. Para quem não lembra, o presidente americano, após os atentados de 11 de setembro, disse que iria fazer uma Cruzada contra os terroristas. Teve que se desculpar depois.

Rei Balduíno: um luxo de fantasia

Além disso, para Scott o filme não é sobre guerra ao terror, como muita gente está supondo. "O filme é mais sobre manter a paz do que sobre fazer a guerra, é o oposto, fala de compreensão entre as pessoas", disse em entrevista à Folha. O engraçado é que o ótimo ator que faz Saladino, Ghassan Massoud, não esteve entre os que falaram à imprensa durante o lançamento do filme em Los Angeles. Sírio, Massoud teve seu visto de entrada negado pelos Estados Unidos, por ter nascido num dos países apontados pelo Departamento de Estado norte-americano como abrigo de terroristas.

Enfim, tanto a questão expansionista embutida nas Cruzadas quanto a luta pela terra ou contra o terror precisam de algum argumento. Sem dúvida, Deus é o melhor deles. E, ah, eu não poderia deixar de escrever isso. Legolas não fala muito: em 2h30 de filme, diz umas 20 frases, se eu não estiver enganado. Ridley Scott sabe o que faz.
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segunda-feira, 2 de maio de 2005

Mãe

Mãe: 1. (s.f) Mulher ou qualquer fêmea que deu à luz um ou mais filhos. 2. Pessoa muito boa, dedicada, desvelada. 3. (Fig). Fonte, origem, berço.

Olha só... Eu já escrevi aqui sobre o que penso a respeito das datas comemorativas. Para quem acompanha este blog, o texto mais recente foi sobre o Dia da Mulher, no post “Ser Mulher”, de 08 de março. Disse que acho que algumas delas são importantes e necessárias como momentos de reflexão, uma oportunidade ímpar para se pensar um pouco sobre algum acontecimento importante, passagens religiosas ou marcos na história do Brasil e do mundo, além de pessoas que fizeram alguma coisa de útil para a humanidade. Acrescento agora que existem outras que... bem, outras que... sei lá, preenchem calendário. Proposta de algum político muito fofo.

Nesse sentido, a verdade é que todo dia é dia de se comemorar alguma coisa. E, grande dica esta!, se você não tiver o que fazer (o ócio é algo corriqueiro na sua vida), dê sempre uma olhadinha no calendário e saia para festejar. Tem data comemorativa para todos os gostos: Dia da saudade, do adulto, da Previdência Social, da oração, da mentira, do planeta terra, da sogra, do porteiro, da vovó, do Gaúcho, do cão, do mar, das bruxas, do trânsito, do ________ (preencha com sua profissão), do supermercado, do doador de sangue, do trigo, da criatividade, etc.

O problema é que poucas datas comemorativas viram feriados, como o 1 de maio, Dia do Trabalho, que sacanamente caiu num domingo. (Merda! Pragas do calendário...) Nessa linha, já comentei também sobre as esquisitices e distorções que algumas datas especiais sofreram por causa de outra praga: o consumo. Pela ótica capitalista, o legal é que todas elas tornem-se de certa maneira lucrativas para alguém. E se você não é empresário, esse alguém naturalmente não é você. Infelizmente, algumas emplacam, como o Dia da Criança (12 de outubro), e outras não, como o da Vovó (26 de julho). Pelo menos, ainda não.

Neste domingo, 08 de maio, será comemorado o Dia das Mães. Mal sabia a americana Anna Jarvis que, ao querer homenagear sua mãe falecida - empreendendo no início do século XX uma campanha com o objetivo de instituir uma data comemorativa às mães – o dia dedicado a elas simplesmente se transformaria no segundo mais importante e lucrativo momento para o varejo, depois do Natal.

O Dia das Mães é um exemplo bem acabado das distorções que eu falei aqui, daquelas datas comemorativas que fazem com que aquilo que deveria ser algo natural e rotineiro, torne-se uma obrigação e um motivo de ansiedade, depressão, sofrimento... E ai de quem nadar contra a maré, andar na contramão. É um filho desnaturado, para dizer no mínimo e com elegância.

E, se há alguns anos presente de mãe deveria ser por tabela algum presente para o lar (fogão de última geração, geladeira idem, máquina de lavar, ferro elético, panelas, etc) nos dias de hoje os produtos que deverão satisfazer a auto-estima da mãe moderna mudaram de perfil. Nas últimas semanas, tenho observado as propagandas, principalmente as das operadoras de aparelhos celulares (acho que são as empresas que mais investem atualmente neste tipo de ferramenta de comunicação no Brasil) que, embora engraçadinhas (propaganda é humor ou emoção!), revelam mães barra-pesada, cheias de artimanhas.

- Diz que comprou "aquele" presente, diz, filha!
-Ai, mãe, espera até domingo. Continua sorrindo, vai!

Uma dessas campanhas mostra uma filha dando um presente à mãe. Empolgada, a mãe pergunta: “Ah, filha, é aquele celular da tal operadora? Aquele bonitinho que toca música?”. A filha responde: “Não, mãe, não é! Mas, se não gostou, pode trocar”. “Pode? Então quero trocar. Troca!”, responde a mãe. Em seguida, entram dois carregadores na sala e trocam a filha com sofá e tudo e trazem uma nova, que entrega um celular para a mãe e diz: “Olha, mãe, advinha! R$ 600 de bônus!”. Feliz, a mãe diz: “Oh, filha, adorei, uma graça, lindo! É a cara da mãe, né?”. Fofo, não?

Em outra propaganda, uma atriz global número 1 dá dicas a outra atriz global número 2 para garantir que a filha entenda a mensagem de que ela quer um celular de tal operadora. Em outro filme, a filha da atriz global número 1 - indagada pela filha da atriz global número 2 - dá a sugestão de presente para agradar a atriz global número 2. Ainda não viu? Você não assite televisão, né? E aquela em que uma puta atriz da aulas a uma mãe de como representar quando receber um presente que não gostar. "Use a dramaturgia, minta com convicção, incorpore a personagem", diz. Lamentável.

Isso sem falar nos filmes da C&A cujas mães-modelos têm no máximo 20 anos. (Acho que estão tentando se adaptar ao novo perfil da mãe brasileira: adolescente, solteira, mas que quer ir para a balada arrasar... e engravidar novamente.) Enfim... Mas aí, você se pergunta se essas propagandas tão espirituosas valem realmente a pena para uma pessoa que já “perdeu” (o verbo é inapropriado, mas vamos facilitar a parada, tá?) sua mãe. Ou, então, você se pergunta se vale realmente a pena dar um celular, um fogão, uma câmera digital, para compensar a carência da relação familiar. É isso o mais importante? Até porque, vamos combinar, fazer biquinho pra receber presente ninguém merece.
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