sábado, 18 de dezembro de 2004

Pausa

Uma pausa para o descanso. As férias estão consumindo o meu tempo (hehe!), não tenho tempo pra nada (hehe!), inclusive atualizar isto aqui. Mas eu volto, heim!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Churrasquinho de leão!

Neste fim de semana, o Campeonato Brasileiro estará praticamente decidido. Não sou lá fã de futebol, não, mas o meu time estará em campo. Portanto, fico na expectativa de duas coisas: Vitória do Bahia contra o Brasiliense na Fonte Nova (que humilhação!), e uma derrota do Vitorinha contra o Cruzeiro, no Mineirão. O rebaixamento deste já valeu o ano. Que tensão!
Fonte Nova prepara-se para mais uma decisão

Por falar em futebol, o que é que tá acontecendo no reino de Pelé? É jogador morrendo do coração, é jogador sendo acusado de tráfico de drogas, é boicote na tradicional panelinha do Clube dos 13. Tsc, tsc... Lama pouca é bobagem.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

Ele não vai se preocupar

É, no mínimo, constrangedor o presépio deste ano do Museu Madame Tussaud´s, em Londres. A representação do estábulo de Belém e das figuras que participaram, segundo o Evangelho, do nascimento de Cristo, contém estátuas de cera do jogador de futebol David Beckham, como José, e da ex-Spice Girl, Victoria Adams, como Virgem Maria. Isso é o mínimo para mim, uma vez que o culto às celebridades é a marca do Museu. Agora, colocar Bush e Blair como os Reis Magos ou representando seja lá o que for é indecente, ainda mais se tratando de religião. Pegaram pesado.

José Beckham, Maria Adams e os reis magos Blair, o marido da Rainha e Bush

Sinceramente, não me interessa toda essa história de presépio, mas respeito. Já vi representações belíssimas tanto em forma de maquete quanto teatrais. A reação da Igreja, como era de se esperar, está sendo feroz. Os adjetivos ao presépio vão de mau gosto a repugnante. “Esse é mais um sinal de que as pessoas acham que podem brincar com coisas sagradas. Deus não vai se preocupar com isso, mas é um pouco deprimente”, disse o editor da revista “Anglican Church Times”, Paul Handley. Adorei o texto dele, principalmente o "Deus não vai se preocupar com isso". Bem, quanto ao casal Beckham, o porta-voz disse que “não tinham conhecimento” do presépio e que “não têm nada a comentar”.

Além das figuras citadas, os pastores são representados pelos atores Samuel L. Jackson e Hugh Grant e o humorista irlandês Grahan Norton. A cantora australiana Kylie Minogue é um anjo que sobrevoa a manjedoura. O outro rei mago é o duque de Edimburgo, marido da rainha da Inglaterra.

Brad Pitt sendo apalpado

O museu Madame Tussaud´s é uma das atrações mais populares de Londres. Com 200 anos de criado, abriga celebridades que vão de Woody Allen ao Dalai Lama. Entre as novidades, estão uma réplica em cera da cantora Beyoncé que rebola e a estátua do ator americano Brad Pitt, a primeira sem camisa, onde os admiradores que se aproximarem e tocarem seu peito musculoso poderão escutar seu coração bater. Além do original em Londres, o museu mantém filiais em Las Vegas, Amsterdam e Hong Kong.

Essa história de museu de cera é engraçada (e rentável, claro). Já viram o rosto e o corpo dos artistas? Me lembra "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde. Tenho medo, hehe!

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Bahia Light

Nesta quarta-feira, acontece em EsseEsseÁ a tradicional festa de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Comércio. Para quem não agüentava mais esperar, o evento dá início ao tão famoso ciclo de festas populares da cidade, principalmente para os fogosos e bagaceiros de plantão. Ou seja: a partir de amanhã a cidade respirará e transpirará (mais, muito mais!) festa. Simplesmente não haverá mais nada a ser feito em EsseEsseÁ a não ser ir a alguma... festa. Para quem gosta é o paraíso. Para quem não gosta é literalmente o inferno ao cubo.

Basicamente, o circo estará armado até o grande evento, o Carnaval, que acontecerá mais cedo, de 03 a 08 de fevereiro. Minto: a coisa continuará pegando fogo até as ressacas pós-carnaval, que duram mais ou menos uma semana após o término do reinado de Momo. O detalhe é que, em paralelo às festas de largo, procissões, lavagens e ene outros eventos, as bandas de axé music, de pagode, de arrocha (a novidade da estação!), cantores e cantoras de blocos carnavalescos realizam, quase todos os dias, shows em variados pontos da cidade, como os badalados ensaios do bloco Os Mascarados, com Margarth Menezes, e os da Timbalada e do Ara Ketu.

Fachada da Igreja da Conceição. Aqui o bicho pega!

Brincadeiras à parte, essas festas populares, as de largo como, por exemplo, Bonfim e Iemanjá, inegavelmente são a representação do mais legítimo movimento de manifestação popular baiano. Nada é mais Bahia. Toda a fé (?!), bastante singular, diga-se, manifesta-se principalmente neste ciclo, desde as comemorações dos orixás do candomblé - quando os "terreiros" da cidade batem seus tambores para seus filhos-de-santo dançarem - até as festas da religião católica, que ganham um cunho profano com muito samba-de-roda (ops! pagode/axé/arrocha) e barracas padronizadas que servem bebidas e comidas variadas.

É o que acontece nesta quarta na festa de Nossa Senhora da Conceição, ou simplesmente, da Conceição. Pela manhã, missa. À tarde (ou, antes mesmo), povo “celebrando” (para usar uma palavra elegante) pela rua. Apesar da importância cultural dessas festas, a violência, a falta de segurança e intere$$e governamental, estão fazendo com que essas comemorações percam a sua força e originalidade a cada ano que passa. Algumas delas já deixaram até de existir, como a da Ribeira, extremamente forte há alguns anos, segundo relatos. Como eu não gosto de multidão, a não ser exclusivamente no Carnaval, não vou.

Infelizmente, hoje em dia a maior parte das festas de EsseEsseÁ ocorre em espaços fechados, a maioria sem infra-estrutura digna, para a classe média que pode pagar entre R$ 20 e R$ 80 por semana por ensaio. É mais seguro? É. Mas, falta alguma coisa, não é assim... digamos... Bahia. Afinal, esse tipo de festa poderia estar rolando em qualquer ou lugar, inclusive em EssePê ou BraZília, como as micaretas. Bahia é Conceição, não Conceição Light, como é “ironicamente” chamada a fe$ta fechada comandada por Daniela Mercury que será realizada no mesmo dia próximo à Igreja. Bahia é Bonfim, não Bonfim Light. Simplesmente, a Bahia está ficando cada vez mais light, sem graaaaaaça.

Bonus Track
08/12 Festa da Conceição
01/01 Procissão do Nosso Senhor dos Navegantes e Festa da Boa Viagem
06/01 Festa de Reis ou da Lapinha (fofa)
08/01 Farol Folia
13/01 Lavagem do Bonfim (a mais interessante)
17/01 Festa da Ribeira
22/01 Lavagem de Itapuã
29/01 Lavagem de Ondina
30/01 Festa de São Lázaro
02/02 Festa de Iemanjá (a mais bonita)
03 a 08/02 Carnaval (sem comentários!)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Reflexão # 10 ou L´amant

(...) Sem saber ele sabe exatamente o que deve ser feito, o que deve ser dito. Ele me chama de puta, de nojenta, diz que sou seu único amor, e é isso que deve dizer e é isso o que se diz quando não se controlam as palavras, quando se deixa que o corpo faça, que procure e encontre e possua o que deseja, e então tudo é bom, não há sujeira, a sujeira está encoberta, tudo é levado pela torrente, pela força do desejo.
Os Amantes, de Marguerite Duras.

O irracional desejo

Um comentariozinho rápido:
Estou lendo este livro. É intensamente lírico, erótico. Em 1998 ou 99, não me lembro exatamente, vi o filme homônimo do diretor francês Jean-Jacques Annaud baseado no livro, com minha amiga Margott. Ela tinha comprado um vídeo-cassete e alugamos o filme numa tarde ensolarada de sábado. Não foi a melhor opção para uma tarde de sábado. No entanto, até hoje não esqueço daquele dia. "O Amante" conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos falidos na Indochina francesa, nos anos 30. O amor proibido da menina branca, sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma dela de escapar à claustrofobia e à derrocada da família, o seu "envelhecimento" precoce, a descoberta da sua solidão. Duras, em seu livro, mostra com classe e sensibilidade o despertar da sexualidade feminina. E Annaud captura e revela esse delicado momento com maestria. Mas o filme é extremamente corrosivo. Não recomendo para os corações mais apaixonados, porque o filme e o livro o espreme como a uma esponja. Também nem preciso dizer o estado em que ficamos após a sessão. Fomos escutar Madonna.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Mais um círculo em volta do sol

Ou: O tempo não pára. Não pára, não. Não Pára! Mas que ele se repete, ah... se repete.

Último mês do ano, Dezembro é, na verdade, um espaço de tempo em estado de suspensão. Ao contrário de Janeiro - que lembra Verão, férias, farra - Dezembro é só preparação: para o amigo-secreto, para o Natal, para o Ano Novo, para o Carnaval, para o IPVA/IPTU. Ou seja: É um mês que não existe para si. Tirando, para não ser cruel, as pessoas que nasceram neste período, Dezembro serve unicamente para realização dos balanços, principalmente do trinômio Dinheiro-Saúde-Amor. Um mês de alegria para alguns, tristeza para outros e de alívio para um montão de gente. “Graças a Deus, está acabando!”, dizem.

É o mês da Família (com F maiúsculo), da promessa, das compras, das lágrimas, da solidão, do suicídio, do dejà vu, do “próximo ano, eu...”, de Roberto Carlos, da Retrospectiva, das videntes e pais e mães de santo na TV, dos filmes de Papai Noel, dos pinheiros com neve nas casas brasileiras, do Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, da Missa do Galo, do “dessa vez, vai!”, da esperança, da lista “Os 10 melhores do ano” e “Os 10 piores do ano”, do peru.

O tempo tá correndo, minha gente. 2005 já é amanhã!

São dias em que muita gente avalia o quanto ganhou, quanto perdeu, faz planos para uma vida melhor, toma decisões sobre o ano que vem, rabisca objetivos, cria metas e compromissos. É verdade que algumas só pensam. Afinal, para elas, isso basta. E guardam sinceramente consigo suas decisões. (Digo sinceramente porque acredito nos momentos de reflexão das pessoas. Além do mais, muita gente neste Brasil não sabe escrever, muito menos sabe fazer planos. Convenhamos: não é só a classe média assalariada que tem esperança, não é verdade?) E já que estamos falando sobre Dezembro, não seria justo se não mencionássemos a palavra inclusão. O derradeiro mês do calendário Gregoriano também lembra solidariedade e perdão. Aliás, um detalhe crucial e um toque: Quem não é perdoado em Dezembro...hummm... Lamento, mas tá em maus lençóis.

Por fim, o mais importante: Dezembro é mês das professias e simpatias. (Olha, vou reconhecer: É um mês em suspensão, mas agitado. Acho que é por isso que as pessoas ficam com os nervos à flor da pele, despertencidas.) Enfim... Como disse, é um mês em que é possível encontrar tanto nas revistas bagaceiras de fofoca como em prestigiados cadernos econômicos previsões boas e ruins (catastróficas!) para o ano que está vindo aí: mês a mês, se possível. Agora, não há nada mais cara de Dezembro que os rituais do Reveillon, quando as pessoas suplicam pedidos, pulam sete ondas, comem doze uvas e fazem qualquer-outra-coisa-que-alguém-ensinar.

Bônus Track:
Aí, com os fogos, chega Janeiro. O mês que já entra bombando. Afinal, no Verão, em férias e com farra pra tudo quanto é lado, ninguém quer mais saber de previsão nem simpatia. Quer é “acontecer”. No fim das contas, o ano mesmo só começa depois do Carnaval, principalmente na Bahia. Inclusive, já ouço muita gente reclamando que o Carnaval em 2005 será muito cedo, 03 de fevereiro. Ou seja: daqui a exatos dois meses. “Ahhh...Três de fevereiro é sem graça. Daqui pra Carnaval é um tapa. Não dá tempo pra nada”. Resultado: Pra que serve Dezembro? Pra deixar o povo angustiado.

segunda-feira, 29 de novembro de 2004

E aí, vai encarar?

- Vem comigo!

Nossa, estou correndo contra o tempo... Hummm..., quero dizer, a favor dele. Minhas férias, até segunda ordem (oh céus!), começam daqui a duas semanas. E o pior é que parece (parece, não. É) que a “carga” está mais pesada para a formiguinha aqui: seja em conseqüência da expectativa seja por causa do cansaço, que é muito. Minha memória que o diga... A locomotiva que sou está literalmente no automático e para sair dos trilhos e daqui pra li ó. Por isso, a demora em postar. Já percebi que eu preciso do ócio, até para ser mais produtivo.

Claro que a primeira coisa que vem à cabeça é dormir. Depois, dormir. Mas dormir vai, evidentemente, me cansar em três dias. E eu vou procurar fazer alguma coisa. Aí é que tá. Planejei três coisas básicas:

1 - Atividades linha "eu quero ver até onde meu coração aguenta":
a) Pular de pára-quedas da Ilha de Itaparica.
b) Pular de bungee jumping da ponte metálica de Paulo Afonso.
c) Ir para o Rio.

2 - Atividade linha "quanto menos gente melhor":
d) Chapada (Lençóis), algo do tipo eco-turismo.

3 - Atividade linha "recepção":
e) Ficar em Salvador. Afinal, ninguém é besta de sair da cidade em pleno verão. Para perder as novidades da estação, só se for para ir ali dar um pulinho de um avião, ver o fogaréu do Reveillon do Rio ou as grutas da Chapada. Mas para ir num pé e voltar em outro, tá?

Ah, já ia me esquecendo... Impressionante como tem gente medrosa nesse mundo! Não dá para acreditar. E eu ainda não convenci ninguém conhecido a ir dar um pulo comigo. Sozinho não vou. Alguém disposto? hehe!

sexta-feira, 26 de novembro de 2004

A verdade

Ou: A dupla, a tripla (ad infinitum...) existência da verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

A verdade, de Carlos Drummond de Andrade

Gosto demais desse poema do Drummond. Digo com culpa reconhecida em cartório que é um dos poucos que li dele. Mas são palavras muito significativas, principalmente quando penso na situação que vivi nesta semana, em que me desentendi com um amigo meu. Aliás, não foi um desentendimento. Digamos que "houve um desencontro". E, lógico, os amigos-juízes entraram na roda para opinar quem estava errado ou quem estava certo. Abre parênteses - Vou dizer uma coisa séria: eu tenho uma característica muito forte. Assim como tudo que leio, escuto, vejo ou tomo conhecimento meus amigos também têm que passar a mesma "experiência", eu os "obrigo" "delicadamente" a se manifestar em situações como essa. Quero saber a opinião, principalmente para me sentir mais seguro das minhas ações, se fiz a coisa certa ou não, mas de alguma forma esperando pela aprovação. Sou geminiano e fico me questionando o tempo todo. Por isso, quando estou com paciência, quero discutir. Afinal, saia justa é para amigos, não é mesmo? hehe! - Fecha parênteses.

Mas como o povo diz: quem pergunta o que quer ouve o que não quer. E, felizmente, eles não são maria-vai-com-as-outras. E eu não gostei de ouvir que "os dois estão errados". Óbvio que não é verdade! Convenci alguns, outros não - a minoria obviamente, que eu chamo de oposição. hehe! Alguns disseram que foi apenas um ingresso de teatro. Mas, de qualquer maneira, eu fico com um pé atrás para a próxima. Então, lembrei-me deste texto de Fernando Pessoa que, ao contrário do Drummond, leio sempre.

“Encontrei hoje, em ruas separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um contou a narrativa de porquê se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham toda razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou que um via um lado diferente. Não; cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.”

Claro que contra fatos não existem argumentos. Mas ri de tudo o que aconteceu. Não está esquecido, nem esclarecido. Mas, esses textos me fizeram pensar que o outro pode ter tido lá suas razões. Odeio ser compreensível, mas sou. Fazer o quê, não é?

terça-feira, 23 de novembro de 2004

Reflexão # 9

"Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem – muitas vezes por culpa de nossos próprios excessos – pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste, velhacos ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbados, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída a influência divina... ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou a minha mãe sob a cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu tenho de ser violento e lascivo. Pelo pé de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardização."
Edmundo, personagem de "O Rei Lear", de Shakespeare.

E aí, pelo pé de Deus!, a quem ou o quê você culpa quando dá algo errado?

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

A carne mais barata do mercado

Ou: Se Roma Negra é aqui, o Haiti também é.

No último sábado, foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Na verdade, um dia para reflexão, como toda data comemorativa deveria sugerir, uma oportunidade para pensar sobre a situação do homem de pele negra e da mulher de pele negra neste país: as diferenças salariais injustas, o tratamento desigual frente a Justiça e a polícia, a falta de acesso aos postos de maior responsabilidade no mercado de trabalho.

Acredito que não resta dúvida que o racismo está entre as mais graves chagas das sociedades contemporâneas e precisa ser combatido com vigor. E qualquer democracia, se quer ser realmente democracia, deve partir do princípio que todos os cidadãos são iguais, têm os mesmos direitos e deveres. Por acaso, o artigo 5º da Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei, “sem distinção de qualquer natureza”. No entanto, o dia-a-dia, miseravelmente real, mostra que há algo de podre no reino da Dinamarca.

Dia da Consciência Negra: Uma vez que a "boa" sociedade não enxerga, é necessário fazer-se visível

Nesse sentido, o IBGE vem mostrando há anos a mesma vergonhosa realidade de um país profundamente desigual. A mais assustadora é a desigualdade racial, mais até que a de gênero: entre os brasileiros que estão no grupo de 1% mais rico do país, 88% são brancos; entre os 10% mais pobres, 70% são pretos ou pardos. Ou seja: os dados do IBGE apontam que a pobreza não é democrática quando se analisa a cor daqueles por ela atingidos. Os negros, que, de acordo com os critérios do instituto, são a soma de pretos e pardos, representam 45% da população, mas são 64% dos pobres e 68% dos indigentes do país.

No debate que tem ocupado a mídia nos últimos anos — depois de mais de um século de silêncio cúmplice — os mesmos falsos argumentos reaparecem: de que não há racismo, mas apenas discriminação social; de que é difícil qualquer ação afirmativa porque seria discriminatória; que somos todos afro-descendentes, afinal todos temos, pelo menos, um ancestral negro; de que o Brasil é um dégradé de cores dificultando políticas focadas na questão racial. Mas a verdade é que qualquer pessoa que se disponha com sinceridade a estudar o que se passa no Brasil sem medo de encontrar a verdade, verá que estes argumentos são manobras escapistas.

Todos os brasileiros podem ter algum tanto de sangue negro, mas é sobre os pretos e pardos de pele que pesa o preconceito que torna mais difícil, ou impossibilita, sua ascensão na escala social. Na ótica das pequenas autoridades do cotidiano – porteiros, policiais e seguranças – não há motivo para dúvidas: sabe-se quem é branco e quem é negro.

EsseEsseÁ, também chamada de Roma Negra, é considerada a cidade com maior população de pele escura fora da África. Quem não conhece Salvador pela sua propagada cultura afro-descendente? Sua religião, sua música, sua culinária? Entretanto, pasmem!, é aqui onde se vê as mais espantosas diferenças entre brancos e negros no Brasil. Lembro-me com nitidez de um comentário de uma amiga minha cabo-verdeana, que estudou na Universidade Federal por meio de intercâmbio, a respeito de seu desconforto na cidade. Ela não conseguia admitir como as pessoas conseguiam conviver de forma tão passiva com algo tão escancarado. Alienação ou costume?

Por falar nisso, em 1998, foi defendida na USP pela antropóloga Elisete Zanlorenzi, a tese "O mito da preguiça baiana". De acordo com ela, a tão decantada “preguiça baiana" é, na verdade, faceta do racismo. A tese sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de "festa eterna". Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas, que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatório contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia. Para saber mais, veja este artigo.

Carnaval: maior parte dos negros ou estão segurando ou estão fora das cordas

Pois bem. No dia da Consciência Negra, foi realizada mais uma Caminhada da Liberdade em EsseEsseÁ, indo da Liberdade ao Pelourinho. Para quem não sabe, na Liberdade é o bairro com a maior população negra do país, com 600 mil habitantes. Lá também está a sede do bloco Ilê Aiyê, primeiro bloco afro da Bahia. O Ilê é uma referência na preservação e valorização da cultura afro-descendente. Quando saiu pela primeira vez, em 1974, não faltou reprovações e ameaças, tanto de policiais como de parte da imprensa mais reacionária. De acordo com o site do bloco, o jornal A Tarde, o mesmo que publicou um Caderno Especial sobre África no sábado, 20, tinha como manchete em de fevereiro de 1975: "Bloco Racista, Nota Destoante". A matéria dizia o seguinte:

"Conduzindo cartazes onde se liam inscrições tais como: "Mundo Negro", "Black Power", "Negro para Você", etc., o Bloco Ilê Aiyê, apelidado de "Bloco do Racismo", proporcionou um feio espetáculo neste carnaval. (...) Não temos felizmente problema racial. Esta é uma das grandes felicidades do povo brasileiro. A harmonia que reina entre as parcelas provenientes das diferentes etnias, constitui, está claro, um dos motivos de inconformidade dos agentes de irritação que bem gostariam de somar aos propósitos da luta de classes o espetáculo da luta de raças. Mas, isto no Brasil, eles não conseguem. E sempre que põem o rabo de fora denunciam a origem ideológica a que estão ligados. É muito difícil que aconteça diferentemente com estes mocinhos do "Ilê Aiyê""

O Brasil viveu por muito tempo o mito da democracia racial. Ainda há gente que acredita nisso, o que é lamentável. Por isso, o ideal é que a sociedade tome consciência dos problemas. Mas, antes disso é preciso enxergar. E as pessoas, infelizmente, ainda não estão acostumadas a ver um palmo diante do nariz.

Bonus Track 1:
Recomendo, para leitura, os livros Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freire. É um bom começo para entender a complexa dinâmica social brasileira.

Bonus Track 2:
A carne mais barata do mercado É a carne negra!
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
E vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado É a carne negra!

Que fez e faz a história pra caralho
Segurando esse país no braço (meu irmão)
O gado aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento Mas muito bem intencionado
E esse país vai deixando Todo mundo preto e o cabelo esticado
E mesmo assim Ainda guarda o direito

De algum antepassado da cor Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor Brigar, bravamente, por respeito
De algum antepassado da cor Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor Brigar
Carne negra!!!

A Carne, interpretada por Elza Soares, no CD do Cóccix até o Pescoço

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Into the groove

Bem, realmente tem certas coisas que eu não sei dizer. E aí, fico com a música "Um certo alguém", do Lulu, tocando na minha cabeça há uma semana. E, se a música toca, uma certa imagem aparece. Posso dizer que é praticamente um home theater, com ajuste digital de som nos modos rock, jazz, classic, concert e, claro, drama, a depender do meu humor. Além disso, os canais pegam todos os ângulos. Uma emoção só!

Quis evitar teus olhos
Mas não pude reagir
Fico à vontade então
Acho que é bobagem
A mania de fingir
Negando a intenção
(...)
Quando um certo alguém
Desperta o sentimento
É melhor não resistir
E se entregar


blá, blá, blá...

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Querido Papai Noel

Como já tinha avisado no ano passado, dessa vez não vou lhe enviar a tradicional cartinha. Vou fazer melhor. Acredito piamente que temos que usar e abusar da tecnologia no momento em que ela facilita enormemente a nossa comunicação. Portanto, me reservo ao direito de usar o espaço de meu tio para te dizer que este ano me comportei como um anjo. Acredite em mim. Aliás, mereço um troféu por isso. Tenho três anos e muita energia. O senhor, sábio como é, deve entender. Mas, não se preocupe: adianto que o presente que vou te pedir já está de bom grado. O troféu eu dispenso.

A verdade é que desde que eu soube que o senhor viria me visitar que eu reforcei, principalmente na frente de minha mãe e conhecidos, os meus bons modos. Não estou correndo tanto assim, almoço quando minha mãe me chama, tomo banho sem reclamar, durmo na hora certa. E aqui entre nós, prometo não chorar mais de mentirinha. Eu sei que me faço as vezes de ator, mas... quem não chora não mama, não é? Hehe! É brincadeirinha... Também prometo não gritar de manhã cedo, nem mexer nas coisas de meu tio Dhan quando for na casa dele. Nem quebrar nada. Nem riscar seus papéis. Nem sujar a parede. Enfim, ficarei quieto e silencioso como o cágado Enrique lá da cada do vô.

Aliás, eu posso te pedir duas coisas? faça com que as pessoas parem de pegar na minha buchecha. Ela não é domínio público e eu não tenho culpa de tê-la. Basta! Outra coisa: eu não agüento mais ver o Rei Leão e não agüento mais o povo me pedindo para imitar Simba. Já bastou eu ter me vestido de leãozinho na minha festa de aniversário, embora tenha fica lindo, diga-se. Hehe! Ah, quase já ia me esquecendo: pode perguntar para a Tia Carla como estou na escolinha. O que eu faço lá já pode ser considerado como uma prévia de como será meu futuro boletim: todo azul. Enfim... acho que já dei provas suficientes de meu esforço em me comportar bem. Agora... sobre o meu pedido: Queria uma bicicleta prata. Não é branca, nem cinza: é prata. Ah, e quando vier daí do pólo norte traz para meu tio alguns potes de Haagen-Dazs. Ele vai a-do-rar. Se comportou muito bem, também. Ano passado eu não te vi, heim? Este ano faço questão.

Um forte abraço,

Rafael


Bonus
Chega a época de Natal e certos monstrinhos modificam completamente o comportamento. Você, simplesmente, não os reconhece. É a homenagem que faço a essa época, momento único para lidar com crianças. Eu aproveito até a última gota. hehe!

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Melodrama Noir

Até que enfim entrou em cartaz, nos cinemas brasileiros, o filme Má Educação (La Mala Educación), do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, inegavelmente um dos mais interessantes diretores de cinema e personagens da atualidade, na minha opinião. Não agüentava mais esperar! Assisti no domingo, no Bahiano. E pela quantidade de textos que já li hoje sobre o filme, posso afirmar que a película tocou muita gente. E é aquela coisa: Almodóvar não provoca meio-termo - ou você gosta do que vê ou não gosta. E só por isso já vale o ingresso - o meu me custou R$ 7.

A verdade é que, inicialmente, esperei ver um filme de denúncia ao abuso infantil cometido por um padre católico, assunto tão em voga hoje em dia e que causou uma polêmica daquelas antes da estréia do filme. Não é. É um trabalho provocativo na medida certa e inteligente. Mais: as reviravoltas da trama permitem que Almodóvar passe por temas como a ganância, a vingança, o ódio, o erotismo, as drogas, além, é claro, da pedofilia e da religião. E, na minha leitura, Má Educação, mostra, antes de tudo, o sexo como um instrumento de poder, muito mais que uma expressão de amor.

Abuso sexual com tintura almodovariana

É um filme muito íntimo, mas não é autobiográfico. Não falo de minha vida no colégio (...). Obviamente minhas memórias foram importantes na hora de escrever o roteiro, já que vivi nos locais e momentos onde a história se passa. ‘Má Educação’ não é um ajuste de contas com os padres que me educaram mal, nem com a Igreja em geral. Caso tivesse necessidade de me vingar, não teria esperado quarenta anos para fazê-lo. A Igreja não me interessa, nem como adversária. O filme não é uma comédia, ainda que haja humor nem um musical infantil, ainda que crianças cantem. É um film noir, ou, pelo menos, gostaria de considerá-lo assim. O gênero noir admite bem a mistura com outros gêneros, sempre que a narração respire esse ar fatal, sem o qual o negro (noir) seria cinza. No noir pode não haver polícia nem armas, nem sequer violência física, mas tem de haver mentiras e fatalidade, qualidades que normalmente uma mulher encarna: a femme fatale. Ela é consciente de seu poder de sedução e é fria, razão pela qual não se altera facilmente. É alguém que perdeu os escrúpulos e não se interessa em recuperá-los. Para ela, o sexo não é fonte de prazer e sim de dor para os demais. Em ‘Má Educação’, a femme fatale é um enfant terrible, o personagem interpretado por Gael Garcia Bernal”, disse.

E, convenhamos: Almodóvar é, antes de tudo, um habilidoso contador de histórias e oferece ao espectador o prazer de acompanhar a trama sob múltiplos ângulos, criando inclusive armadilhas. A história é a seguinte: Quando criança, no início da década de 60, Ignacio (Gael Garcia Bernal) estudava em um colégio interno católico. Lá ele sofreu abusos sexuais por parte de seu professor de Literatura, o padre Manolo (Daniel Gimenez Cacho), que marcaram sua vida para sempre. Ainda criança, Ignacio se apaixona por um colega do colégio, Enrique (Fele Martínez). Juntos, conhecem o amor, o cinema e o medo. Vinte anos mais tarde, os três personagens voltam a se encontrar e colocam suas angústias, frustrações e traumas em cima da mesa. Mas ainda há Juan, irmão de Ignácio, que conhece os outros dois, e que será o responsável pelas grandes reviravoltas da história.

Gael, o pequeno notável, e Almodóvar com os erezinhos

Ainda não tenho uma conclusão sobre o filme. O que é certo ou errado. Mas, faz pensar. Aliás, qualquer filme que faz com que você saia da sala de exibição pensando sobre ele ( em vez de pensar onde vai comer ou o que vai fazer quando chegar em casa) vale a pena. A razão do título do filme, segundo o diretor, baseou-se na educação que ele e outros espanhóis, mesmo de gerações anteriores, receberam, fundada no medo, no castigo, no sentimento de culpa. Para Almodóvar, “a educação perfeita para psicopatas. É um milagre que eu tenha crescido normal!”

Acho Almodóvar tão intrigante e interessante que ele seria meu objeto de estudo no meu projeto de graduação. Na verdade, queria estudar o melodrama na obra do cineasta, principalmente depois de ter assistido Maus Hábitos e A Lei do Desejo. Óbvio que não deu certo. Eu era maluco sem noção e a minha orientadora uma insana irresponsável. Mudei a tempo, de tema e de orientadora.

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Reflexão # 8

Estão vendo esta foto aí em baixo? É da praia de Itapuã, aqui em EsseEsseÁ. Raramente vou nessa praia, embora goste de dar as caras por lá vez em quando. É looonge... mas é linda!. Costumo frequentar outra, de águas mais calmas e areia badalada(íssima), principalmente no verão baiano, que já começou, naturalmente. Agora, advinha onde estarei nesse feriadão de Proclamação da República, em homenagem àquele que tinha perna fina e bunda seca?


Um velho calção de banho, (nem calção, nem velho. Sunga, pelo amor de Deus!)
O dia pra vadiar,
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar.


Depois, na praça Caymmi,
Sentir preguiça no corpo, (sim, sim!!!)
Em uma esteira de vime
Beber uma água de côco,
(Uma é pouca!)
É bom.

Passar uma tarde em Itapoã,
Ao sol que arde em Itapoã,
Ouvindo o mar de Itapoã,
Falar de amor em Itapoã.


Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha,
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha.

E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar,
Bem devagar ir sentindo

A terra toda a rodar, (fico tonto!)
É bom.
(...)

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz,
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais.


E nos espaços serenos
Sem ontem, nem amanhã,
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapoã,
(só da lua?)
É bom.
(...)
Tarde em Itapuã, de Vinícius de Moraes e Toquinho.

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Você está demitido!

Ontem, assisti ao “O Aprendiz”, reality show que estreou na semana passada na Record e está sendo exibido pela emissora às terças e quintas a partir das 22h. Comandado pelo empresário e publicitário Roberto Justus - aquele que encantou (pegou), entre outras, Adriane Galisteu e Eliana, ele é baseado em um dos programas de maior audiência nos EUA neste ano, o “The Apprentice”. Lá, o show é apresentado por um dos homens mais ricos da América, Donald Trump: o milionário com o pior penteado do planeta.

Um resumo básico: "O Aprendiz" reúne um grupo de 16 participantes, oito homens e oito mulheres, que competem por um cargo em uma das empresas do próprio apresentador. O vencedor terá um contrato de um ano, onde receberá um salário R$ 250 mil nesse período. No programa, eles participam de tarefas que envolvem vários aspectos do mundo empresarial, como: vendas, marketing, promoções, ações beneficentes, negócios imobiliários, finanças, publicidade e gerenciamento, além de administração de bens e realização de eventos. Mesmo com a presença aqui e acolá de alguns termos não muito conhecidos pela maioria dos telespectadores, como, por exemplo, briefing e market share, a dinâmica do programa é bem palatável.

- Somos tratados como cão sem dono, sabe?...Temida sala da diretoria

No entanto, o ponto alto se dá quando a equipe perdedora apresenta-se à sala da diretoria, onde Justus anuncia a demissão de um deles. Até onte, a equipe feminina perdeu duas vezes. Justus é implacável. Se eu não soubesse que, na vida real, as reações e acusações comuns a esse momento não são muito diferentes, ficaria constrangido. Mas fiquei. Claro que para cair no patético e cafona é daqui para ali. Mas, apesar de toda mise en sène necessária a um programa de televisão, não da para não comparar com as famigeradas dinâmicas de grupo aplicadas pelas empresas para seus candidatos, principalmente para uma seleção de trainee, ou qualquer seleção, na verdade.

Afinal, se você pensar que, no Brasil, conseguir um emprego “qualquer-coisa-pelo-amor-de-Deus” transformou-se no sonho de grande parte da população - em especial EsseEsseÁ, que tem a maior taxa de desemprego do país, de acordo com o DIEESE - você imaginará o que uma pessoa é capaz de fazer para “garantir” o seu lugar ao sol. A situação é tão complicada que, atualmente, conseguir uma vaga para estágio ou trainee está mais disputado do que passar no Vestibular.

“O aprendiz” dá gás novo ao já surrado formato dos reality shows da TV brasileira. Saem de cena os competidores com músculos – e curvas – demais. Desaparecem os participantes com cérebro – e roupas – de menos. Quem entra na disputa são jovens com formação superior (há um engenheiro, uma publicitária, um advogado...), educados, bem vestidos e que, aleluia, falam corretamente a língua portuguesa. Nada, portanto, de gritos como “U-hu!”, “Caraca!” ou “Fala sério!” no ouvido do espectador. “O aprendiz” aposta na inteligência dos participantes e não em sua burrice, como costuma acontecer nas atrações do gênero – como no caso de “Sem Saída”, da mesma Record. A sensação é de alívio”, diz Marcelo Camacho em artigo publicado no site No Mínimo.

"A vida é dura... mas o dinheiro compensa", pensa participante americano

O programa dá margem a várias análises. A mais evidente para mim é a questão da competição levada ao extremo. É o capitalismo em estado bruto, onde “não há espaço para fracos”. Ressalte-se que o “fraco” aqui está entre os incluídos. Aqueles que conseguem fazer MBA na FGV ou ESPM, viajam ao exterior, lêem as revistas de auto-ajuda da Abril, como Exame e Você S/A. Os excluídos – aqueles sem educação, sem acesso a informação ou internet, sem saneamento, ora bolas! - ou cerca de 100 milhões de brasileiros (ou mais), não contam.

Aliás, um detalhe ficou muito visível no episódio de ontem: a demissão não se dá pela falta de qualificação do profissional (os currículos são excelentes) mas, principalmente, pelo seu relacionamento interpessoal. É a questão: qualificação todo mundo tem (estou falando dos incluídos, heim?!), mas um detalhe fará a diferença. É a era das competências. Não adianta contratar o Super Homem, se você busca alguém para trabalhar com kriptonita. Alguns dizem que relacionamento interpessoal é a sua capacidade de formar “panelinhas”, hehe! Brincadeiras à parte, outro aspecto que me chamou a atenção foi a diversidade de candidatos. Quer dizer, a ausência dela, ao contrário da versão americana, onde se vê negros disputando o cargo. Enfim...

Mas, o mais engraçado é que a EssePê que aparece na abertura do programa assume a sua cara de metrópole e faz o Rrrrio parecer uma vila e EsseEsseÁ um baleneário. Quem quer fugir desse clima maquiavélico, é melhor nem assistir. Não vale a pena se estressar.

Bônus Track
Já que o texto fala em competição, capitalismo, relação interpessoal, aqui vão algumas técnicas de negociação que os compradores de uma rede multinacional de supermercados estabelecida aqui no Brasil ainda usam nos dias de hoje. Acreditem, é real. E,essas são as mais leves, heim!!

1) Considere o vendedor como nosso inimigo número 1.
2) Seja inteligente, finja-se de idiota.
3) Não tenha dó do vendedor, jogue o jogo dos maus.
4) Não hesite em usar argumentos, mesmo que sejam falsos.
5) Desestabilize o vendedor exigindo coisas impossíveis.

Bonus Track 2
(...) Eu queria ter na vida simplesmente
um lugar de mato verde pra plantar e pra colher
ter uma casinha branca de varanda
um quintal e uma janela só pra ver o sol nascer"

Casinha Branca, de Gilson e Joram.

Tá bom, tá bom... essa casinha tem que ser no centro de uma metrópole, com internet, e cinema, e teatro, e música, e pizza delivery. Quis fazer um contraponto a essa disputa desumana que é o capitalismo, mas acabo de me denunciar: eu não sei viver no mato.

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Agora só falta você!

Ou: Olha só, ele usa maquiagem... mas não é gay, viu? Não é!

Quem nunca ouviu falar de metrossexual que levante o dedo. Agora, aqueles que já estão escolados no assunto, podem levantar também o dedo, só que o médio, como eu, que já estou cheio. E digo isso porque, mais do que um “novo homem”, o metrossexual é, na verdade, um segmento e um conceito frágil. E, quando alguém quer ganhar dinheiro com uma “tendência”, hum!, saia de baixo: uma lavagem cerebral está a caminho.

A perfumaria característica é: homem que vive nas grandes cidades, com idade superior a 25 anos, heterossexual, bem-sucedido, refinado, moderno, gentil e bem-humorado. O que está por trás é: homens tapados, cheios de valores que não fazem mais sentido numa sociedade onde o feminino está se sobrepondo, deixem essa história de lado, acordem e consumam outras coisas além de carro e eletrônicos! A frase que seria adequada a esse momento seria: “Agora, só falta você!”, como diria a Rita Lee. Hehe!

Desde que as mulheres saíram de dentro de casa e começaram a ter alguma influência na sociedade patriarcal judaico-cristã, principalmente assumindo atividades antes típicas de homens, como posições de comando, que eles não estão sabendo para onde ir ou o que fazer consigo mesmos. Não sabem qual é o seu lugar, onde aplicar a força, de que forma mostrar sua virilidade. Estão enredados em valores culturalmente estabelecidos que estão sendo postos em xeque, e caindo um a um, apesar da gritaria do Vaticano.

E qual é o papel do masculino numa sociedade em que o emocional está tomando o espaço do físico e da racionalidade? Não sei. Mas, já existem dezenas de livros de auto-ajuda tentando dizer alguma coisa a esse respeito. Em função disso, o que mais impressiona nessa histeria fortemente financiada pela indústria de cosméticos, confecções e acessórios é a separação que deve ficar clara na mente das pessoas: Metrossexual não é gay. Do tipo, “olha só: ele usa maquiagem... mas não é gay, viu? Não é!”. “Vê, ele joga bola. É verdade que a unha tá pintada, mas ele joga bola” Afinal, é preciso convencer o macho adulto branco que ele pode, sim, ir às compras sozinho.

Os gays já consomem. E, nesse caso, o consumo é uma forma de se auto-afirmarem, mesmo que para isso reproduzam idéias e pensamentos da sociedade que os discrimina. Ao consumir, é como se estivessem querendo limpar a suposta sujeira que é a Homossexualidade, se inserir, aderindo a valores que a sociedade consagra, no caso, roupas caras, lugares da moda, parceiros bonitos e de pele clara, carros, viagens, etcetera. Os negros, também. Ganharam visibilidade a partir do momento em que se tornaram rentáveis. Hoje, existe uma gama de produtos específicos nas prateleiras dos supermercados. E não foi necessário fazer muito esforço para convence-los a comprar.

E, aí, só faltava quem? Os homens. Eles precisam aderir às indústrias que mais crescem atualmente: a de cosméticos e a de moda. O tal "agora só falta você", inclusive, não tem dado, ultimamente, muito espaço ao macho adulto branco. No programa "Queer Eye for the Straight Guy", uma equipe de homossexuais estilosos se empenha em ensinar sofisticação e boas maneiras a típicos grosseirões heterossexuais. A reação, seguindo a fórmula que deu sucesso ao reality show de bibas, está vindo em "Straight Plan for the Gay Man’, onde quatro ‘machões’ fazem de tudo para camuflar temporariamente trejeitos e gestos estereotipados de voluntários gays. Essas "tranformações", inicialmente divertidas, têm irritado muita gente.

Uma questão de atitude

A questão é: o termo pegou e está dando certo. Os principais garotos propagandas estão sendo os jogadores de futebol e astros do rock. Nada mais viril. O discurso agora é que homem com H já pode comprar e se servir de “coisas” antes consideradas femininas, como o blush da grife Jean Paul Gautier.

Pois bem: eu digo que muito mais do que David Beckham, homens extremamente arrojados em sua “nova” aparência são os jovens da periferia de EsseEsseÁ. Estão anos luz à frente da classe média abastada. Eles fazem a sobrancelha à la Marlene Dietrich, pintam o cabelo, depilam os pêlos, vestem-se com roupas coloridíssimas que, se qualquer gay se atrevesse a usar seria linchado, e ainda pegam as mulé nos shows de pagode e arrocha. Uma questão de atitude.

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Americanos

Bem... ontem, os americanos fizeram a sua parte. Mas, sem reclamação, tá, gente. O que podemos dizer de um evento em que praticamente o mundo inteiro quis participar, mas só eles tinham o direito? Resultado: eles agiram como típicos americanos. Ah! Sabem da letra de Caetano Veloso chamada Americanos? Ela me impressionou muito quando escutei pela primeira vez há alguns anos. Principalmente pelo último verso, que acho genial.

(...)
Americanos são muito estatísticos
Têm gestos nítidos e sorrisos límpidos
Olhos de brilho penetrante que vão fundo
No que olham, mas não no próprio fundo

Os americanos representam grande parte
Da alegria existente neste mundo

Para os americanos branco é branco, preto é preto (e a mulata não é a tal)
Bicha é bicha, macho é macho
Mulher é mulher e dinheiro é dinheiro

E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se
Cocedem-se, conquistam-se direitos
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime

E dançamos com uma graça cujo segredo nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime

Americanos não são americanos
São velhos homens humanos
Chegando, passando, atravessando
São tipicamente americanos

Americanos sentem que algo se perdeu
Algo se quebrou, está se quebrando

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

Grandissíssimo filho de uma p#%@

Tinha preparado um texto e ele misteriosamente sumiu. De-sa-pa-re-ceu, entende? Estou chocado, desalentado, me sentindo um trapo de gente. Já bati, já xinguei, já esperneei. Também já mudei de tática, acariciando, prometendo beijos e fazendo juras de amor para ele, mas nada. Durma com essa...

Alguma coisa agora aqui só depois do feriado (mais um), já em ritmo de horário de verão. Meus pêsames aos meus amigos do sul... Ops, ou não. Afinal, tem gente que gosta. Dez estados brasileiros participarão do importantíssimo horário de verão, que contribui significativamente para a redução do consumo de energia deste imponente país.

A Bahia, que era o único estado nordestino a utilizar o horário, pulou fora disso no ano passado. Não cheirou nem fedeu. Mas aí veio uma nova reclamação do eterno insatisfeito baiano (comida, tempo, temperaturda do mar e trabalho, entre outros, são motivos de poderosas pragas...), praticamente um castigo como consequência de não acompanhar, tradicionalmente, o "resto do país": bancos, vôos e, principalmente, programação de TV agora são mais cedos. Eu pergunto: Adiantou? Heim, computador de merda?? Responde, bastardo!!!

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Reflexão # 7

Haverá na face de todos um profundo assombro
na face de alguns risos sutis cheios de reserva
Muitos se reunirão em lugares desertos
E falarão em voz baixa em novos possíveis milagres
Como se o milagre tivesse realmente se realizado
Muitos sentirão alegria
Porque deles é o primeiro milagre
E darão o óbolo do fariseu com ares humildes
Muitos não compreenderão
Porque suas inteligências vão somente até os processos
E já existem nos processos tantas dificuldades...
Alguns verão e julgarão com a alma
Outros verão e julgarão com a alma que eles não têm
Ouvirão apenas dizer...
Será belo e será ridículo
Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho
Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada
Só a alegria de alguns compreenderem bastará
Porque tudo aconteceu para que eles compreendessem
Que as águas mais turvas contêm às vezes as pérolas mais belas
Acontecimento, de Vinícius de Moraes

Aos amigos. Quantas referências, heim? Chego até a me perder.

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Filho da lua

Em homenagem aos enluarados, lunáticos e àqueles que nasceram com o cu virado pra ela. Também aos românticos loucos, desvairados, limpos e pirados que pensam que o outro é o paraíso.

Não está sentindo?
Não?
Pois então venha ver, por favor...
Venha, deixe de preguiça.
Ela está me observando...
Olhe como ela está lá, parada, quieta, silenciosa, só aguardando a minha presença. Tem dias que ela só faz isso: espiar, mas hoje é um grande olho no céu. São nesses dias que ela quer me ver inteiro, quer me encontrar, e eu sinto isso. Sei também que me acompanha a todo o momento, mesmo de dia e isso é grandioso, não percebe?

Veja como eu faço: primeiro, fico aqui atrás dessa cortina daqui da sala e olho meio escondido para ela, porque tenho que ir me mostrando aos poucos, sabe? e, ao mesmo tempo, tomar coragem. Gosto dessas cortinas transparentes porque quando passo por elas parece que estou rompendo com algo, nascendo de novo. Acho que de mim mesmo. Depois, separo as partes do pano com as mãos na altura da cintura e vou abrindo, dou mais um passo e então eu fico completamente iluminado. A cabeça é a última a sair. Pronto! Ah, como é bom abrir os braços, fechar os olhos e senti-la brilhante. Sim, sim, é isso! Abro os olhos devagar e a vejo de frente.
Venha ver como ela se mostra, chegue aqui até a varanda...
Não fique com timidez, venha aqui só dar uma espiada. Sei que você pode me ver por detrás dessa cortina, estou iluminado e é dia para mim, mas eu não posso te ver, aí dentro é muito escuro, e eu quero olhar seu rosto.
Que horas são? Onze horas? Parece dia, não? Agora, me diga: quem precisa de sol quando ela está conosco o tempo todo e aquele que habita nela nos protege em qualquer momento, ainda mais nos de desespero?
Não, não vá embora, fique comigo, espere!

Você é meu sol, sabia?
Me dê um beijo... preciso que você fique junto de mim, mais que isso... Queria tanto que você ficasse aqui comigo e sentisse o que eu sinto...
Pena que você prefira ficar aí, bebendo...
Mentira! Não é nada disso. Não é apenas “a lua”. Venha comigo que eu te ensino que não é só isso e, por favor, não fique falando que não vai ser possível. Respondo que é possível, sim, e não custa nada.
Repare bem: ouça o seu som; feche os olhos...
É tão profundo e claro, tão morno...
Por acaso, você gosta de calor? O quê? Adora!
Não, o calor é intranqüilo. Nunca percebeu que você sempre precisa de algo no calor? Água, carne, falta...
Veja como a noite está estrelada, parece uma reverência. Se lembra de sua mãe te embalando quando você era criança?
Não?

Quer descer um pouco e ir até aquele barco ali na praia? Venha, não vai lhe custar nada, vamos descer por essas escadas de pedra e andaremos pela areia descalços até o barco. Juntos.
Que bom que você vem comigo, normalmente venho aqui sozinho. Às vezes, choro na beira do mar pela minha alma, por isso que ela fica ansiosa ao me ver. A lua gosta disso, ela dá abrigo aos amantes, loucos e órfãos.
Suas mãos são tão macias e confiantes...
Chegamos ao nosso pequeno barco de madeira chamado Neil Armstrong.
Pronto, suba.
Não tenha medo...
Agora, vou remar só um pouco.
Calma... Só mais um pouco, é preciso.
Veja como está clara a lua. Toque no mar, sinta como a água é morna e as ondas nos embala. Agora, sinta a luz dela no mar, parece uma trilha...
Sei que não é dela.
Por favor, dê um tempo de si. Faça isso por mim e por você, ta legal?
Tão calma a noite, não acha? Agora, se lembra de sua mãe te embalando? Ela cantava alguma música para você? Feche os olhos, sinta a luz da lua e ouça o som do mar. Eu estarei aqui sempre com você... sempre. Não tenha medo.
Não! Eu não vou fazer nada, já disse.
Confie em mim.
Me beije.

Você cresceu demais, sabia? Agora feche os olhos novamente e sinta.
Calma... Respire fundo. Sinta o seu poder... Luz sem calor. Não é maravilhoso isso? O que você está vendo?
O mundo parece estar maior?
Mas, mesmo assim, você não consegue ver nada? Você viaja rápido, sabia?
Não, não estou brincando com você! Por favor, não quebre o encanto, relaxe, sinta a sua presença... o seu feitiço.
Quer ir para algum lugar? Faço o que você quiser. Sempre fiz, você sabe disso. Podemos seguir essa trilha.
A sua resposta é essa?
Quer morar lá?
Não me leve a mal, mas não podemos ir para lá. Ela está aqui, não se preocupe. Sinta o mar... Tão grande.
Veja! Não parece que ela desenhou um caminho para nós seguirmos?
Você está rindo, é?
Quer ir?
Não, não sou nenhum maluco. Sou seu filho. Sou um filho da lua, compreende?

terça-feira, 26 de outubro de 2004

As eleições estão próximas...

Falta pouco, falta muito pouco para sabermos quem será o vencedor dessa eleição. O medo vencerá a esperança? Espero que não, embora algo me diga que vai sim... Vai vencer. Não, não estou falando de EsseEsseÁ, onde, felizmente, a eleição já está praticamente definida: o candidato de ACM será derrotado de lavada. Pelo menos isso. Falo, na verdade, das eleições americanas. O mundo espera com apreensão e preocupação o que os patrióticos americanos vai lhe dar de presente para os próximos quatro anos. Na próxima terça-feira, 02 de novembro, dia de Finados no Brasil, a América saberá quem será o seu novo Presidente. E nós também.

Na última pesquisa, divulgada ontem pelo jornal USA Today em conjunto com a rede de TV CNN e pelo Instituto de pesquisa Gallup, 51% dos entrevistados disseram que votarão em Bush, contra 46% disseram preferir Kerry. Apesar de ser uma referência em Democracia, a eleição americana é, no mínimo, esquisita. O presidente e o vice-presidente não são escolhidos diretamente pelos eleitores, mas por Delegados que formam um Colégio Eleitoral. Para entender esse negócio ininteligível para clique aqui.
Já em outra consulta, essa realizada pela revista Radio Times, da BBC, sobre os favoritos do público da Grã-Bretanha para a presidência dos Estados Unidos, o patriarca de Os Simpsons, Homer Simpson, ficou em primeiro lugar. Na pesquisa, os britânicos votaram em candidatos personagens de programas da televisão americana. Nada como o humor inglês, não?

A apreensão e preocupação com um segundo mandato de George W. Bush, ou Pink, é tão grande que ontem a revista norte-americana The New Yorker declarou seu apoio à candidatura do democrata John Kerry. Pode não ser nada, mas é a primeira vez que a publicação, uma das mais prestigiosas dos EUA, recomenda abertamente o voto num candidato a presidente. A revista se juntou a outros importantes veículos de imprensa do país, como os jornais The Washington Post e The New York Times, que já haviam declarado apoio ao oponente do presidente George W. Bush.

De acordo com a revista, o atual presidente dos EUA reagiu de forma inadequada aos ataques de 11 de setembro, mentiu ao apresentar as justificativas para a guerra do Iraque e não apresenta boas propostas para as principais necessidades do país. No caso da guerra do Iraque, o New Yorker afirma, por exemplo, que as razões alegadas pelo presidente para invadir o país não existiam. Entre elas, o fato do Iraque possuir armas de destruição em massa, o que nunca foi comprovado.

Mas, parece que nada disso muda a opinião do americano médio. Nem produtos culturais, como Farenheit 11/9, nem soldados que torturam e abusam de prisioneiros de guerra, nem o desaparecimento de cerca de 350 toneladas de explosivos do Iraque. Enquanto a casa estiver limpa, o resto que se dane para eles. Aliás, uma recomendação: tenham medo dos americanos que vivem fora dos grandes centros urbanos. Eles não gostam de estranhos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

- Tomô?

Mesmo com a torcida, a máquina, a pista e a pole-position a seu favor, o piloto brasileiro Rubens Barrichello ficou com o terceiro lugar na corrida do GP do Brasil. Schumacher, seu companheiro de escuderia, eternamente culpado pelas derrotas de Rubinho, saiu na penúltima fila e terminou em sétimo. O colombiano Montoya venceu.

Rubinho: - É a minha cara, não é minha gente?
Schumacher: - Até quando eu tenho que aguentar esse zé mané?. Tomô?

E, na falta de um piloto que vibrasse a torcida, Gisele "quero muito dinheiro" Bündchen fechou em Interlagos. Só deu ela.

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Musa


Sei lá, entende?

Música de agora em alguma rádio FM não identificada: Ainda bem, cantada por Vanessa da Mata.

Ainda bem
Que você vive comigo
Porque se não
Como seria essa vida
Sei lá
Nos dias frios em que nos estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto de amar

Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não daria
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria ao acaso e não sorte

Neste mundo de tantos anos
Entre tantos outros
Que sorte a nossa hein?
Entre tantas paixões
Este encontro
Nós dois, este amor

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Perdas e Ganhos - Parte I

Ou: Sinais.

Eu sempre digo para mim mesmo para não me apegar aos bens materiais. Mas eles não me deixam. Não querem separação. Voltam. (Ainda bem).

Na terça-feira, por duas vezes minha carteira quis se separar de mim. Na primeira delas, eu estava a caminho do trabalho e esqueci no carro de uma amiga minha. Aconteceu que, quando fechei a porta do veículo, me lembrei que faltava algo. “Ai, meu Deus!”, disse. Eu tenho um problema sério: uma das minhas manias é que eu coloco, quando sento, a carteira entre as pernas e não no bolso de trás como todo mundo. Tsc, tsc... Apenas no final do dia foi que percebi que deveria prestar mais atenção aos sinais. Buuuu! Se não, vejamos:

À tarde, não teve jeito. (Vou logo pro final: à la Tarantino hehe). Fui parar em uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência pela perda da carteira. Explico: é que depois do almoço tive que fazer um trabalho externo. Para matar o tempo, dei uma passada na biblioteca Juracy Magalhães, no Rio Vermelho, bairro boêmio, conhecido pela festa de Yemanjá e por ser o point das mais famosas baianas de acarajé de EsseEsseÁ. O prédio fica debruçado sobre o mar da Bahia, uma maravilha... Bem... Em vez de ir para a seção de periódicos (pra quê?), fui para a de pesquisa, por curiosidade. Peguei um livro lá e comecei a ler. Apesar dos olhares curiosos das criancitas e teenagers (eu era o único adulto da sala. Digo assim: com mais de 20 anos, entende?), consegui me concentrar na leitura. Chegou o meu horário, fui embora.

De repente, mexo na minha pasta e não encontro a bendita. “Fudeu, perdi minha carteira. Merda!”. Volto para a biblioteca e procuro a caríssima: ninguém viu. Então, enquanto olhava para o segurança, que provavelmente esperava uma reação minha, me perguntei se eu deveria fazer algum escândalo, um pitti à la Caetano Veloso, ou não. Optei pela segunda alternativa baseado, evidentemente, em dois argumentos: (1) fui eu quem esqueceu e, (2) estava com preguiça. Não estava a fim de me estressar. Resultado: dei meu contato para o segurança e para a bibliotecária da seção de pesquisa sem drama, sem cena, (se o mundo acabasse na terça-feira, eu não faria nem drama, nem cena. Eu estava totalmente pragmático) e fui para a delegacia, imaginando todo o contratempo que teria para obter todos os documentos novamente, principalmente a carteira de meia-entrada, de longe o doc mais importante.

No caminho da delegacia, mais um outro questionamento, dessa vez uma questão de proteger-me contra o ridículo: se devo dizer que eu perdi a carteira ou se fui furtado. Uma dúvida cruel. Bem... entrei em contato com os simpáticos agentes policiais, que me pediram para “aguardar”. Meia hora depois, enquanto eu ainda “aguardava”, recebo uma ligação. Uma mulher chamada Letícia diz “encontramos sua carteira”. “Ai, que alívio”. Quando retorno à biblioteca, uma comissão com umas dez pessoas (todas mulheres, a maioria senhoras) me esperava para devolver minha wallet. Foi hilário, se não fosse a cara de seriedade das meninas da Juracy Magalhães. Parecia um jogral, cada uma dizia uma frase: “Que sorte, heim?”, “a carteira estava na cadeira”, “você deve ter sentado em cima dela”, “tome mais cuidado”, “desculpa, mas tivemos que abrir para ver se tinha alguma identificação sua”, “veja se está faltando alguma coisa”, “que sorte, heim?”, etc... Enfim, todas fofas. Me senti como se tivesse seis anos de idade.

Ei, não sou esquecido. Tenho memória afiada, mas para outras coisas. Acho que esses acessórios devem vir com corrente ou um sistema de apito. Só para lembrar... hehe. Esse episódio me lembrou uma outra história extremamente com toques de nonsense, que me fez ver concretamente que EsseEsseÁ é uma praça. Mas isso eu conto depois...

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Vida de nego é difícil, é difícil como o quê...

Ou: Ela voltou. De novo. Para novas gerações

Dizer que novela faz parte da cultura nacional não é novidade alguma. Goste-se ou não, o gênero mobiliza grande parte dos televisores e conquista as mentes (!?) e os corações dos brasileiros durante meses. Pode ser nonsense, surreal, mas alguns finais de novela chegam literalmente a parar o país. Mas o que dizer de uma que estreou antes de eu nascer, 1976, foi reprisada cinco vezes, a última em 1990, e que a partir de hoje tem início uma “nova versão”? Já sabem da qual estou falando, não?

- Me pega como Rubens de Falco pegava Lucélia Santos, vai!

quinta-feira, 14 de outubro de 2004

Dia da Criança

Enfim, chegou o dia das crianças. “Será que vou ganhar algum presente este ano?”, pensou Marquinhos, um menino capetinha de sete anos, no degrau da porta de casa. Estava sentado, com o queixo encostado nos joelhos, de cabeça baixa. Com um graveto fazia desenhos no passeio. Ao léu. Não pensava neles. Fungava. De vez em quando, passava as costas da mão pelos olhos molhados.

Ano passado - lembrou-se - foi brincar de fazer castelo num montinho de areia que havia em frente à sua casa. Ela estava em reforma. Na ocasião, brincou com seu amigo Pedrinho. Brigou também com ele. Pedrinho estava muito alegrinho para o seu gosto. Se bem que hoje em dia não se lembra mais o motivo da discussão. Recorda-se apenas que ficaram sem se falar durante uma semana. Bem, quando Marquinhos voltou para casa, nem perguntou pelo seu presente, que não veio. Não reclamou, não fez cara feia nem nada. Ficou quieto e comportou-se como se nada tivesse acontecido.

“Data mais besta”, resmungou para si mesmo, jogando o graveto fora. Passou a mão pelo rosto. Fungou. Pensou na professora Lílian: “Como é linda a pró Lílian. Será que vai aceitar se casar comigo? Um dia tomo coragem e falo com ela... Ela me entende. Disse na aula de sexta que o Dia das Crianças é uma data comercial como o Dia das Mães e o dos Pais. Que Dia da Criança é todo dia. Não entendi direito, mas como ela disse, deve ser certo o que ela falou. Mas por que todo mundo ganha presente e toda hora passa comercial na televisão? Pedrinho ganhou brinquedo no ano passado e daqui a pouco deve tá batendo aqui na porta. Não sei porque ainda não chegou... ele sabe muito bem que a gente marcou pra caçar lagartixa hoje... Vou chamar ele de Pedro Bó. Vai ficar retado: Lá vem o Pedro Bó! Pedro Bó! hehe... Festa boa mesmo é a de Natal na casa de Vó Jurema. E lá não tem essa gente besta fazendo pergunta difícil de responder. Ninguém pergunta nada. E lá eu ganho sempre presente...”.

“A Marta e Mônica acordaram hoje com bonequinhas na cama delas. Eu não quis nem saber... aquelas chatas. Eu não tô nem aí pra elas. Marta me disse que quem deu a boneca dela foi sua madrinha. Menina besta aquela ali. É minha irmã, mas é besta. Queria de Tia Bete fosse minha madrinha. Tia Bete é médica e pode me dar o que quiser. É um saco não ter madrinha nem padrinho. Meu Pai me disse que meu padrinho trabalha na Petrobrás, disse que é bom emprego. Mas aquele besta quase nunca me visita. Não sei porque Meu Pai me deu um padrinho como aquele. Se ele vier com aquela mãozinha querendo que eu peça a benção, eu viro a cara e saio correndo... ah, se saio. Minha Mãe vai me bater, mas eu não vou pedir a benção. Não vou. Quando perguntar o porquê, vou dizer que é porque ele não gosta de mim. Não me visita e só faz me perguntar se tiro nota boa e se vou passar de ano. Deus me perdoe, mas ele também é um besta.”

(...)

- Marquinhos, vamos comprar comida comigo. Troque de camisa.
- Já tô indo, Minha Mãe.
- Agora, viu?
“Minha Mãe tem que comprar comida todo dia. Trabalha com Meu Pai. Quando ele não está bêbado, até que a gente come no horário. Ele dá dinheiro pra ela. Quando eu casar com a pró Lílian não vou fazer assim... não tá certo”.
- Vamos, segure a sacola! Porque tá assim... tão quieto? Aprontou alguma por aí não foi?
- Ihhhh, Minha mãe.
- Deixe de coisa, menino.
“Gosto quando Minha Mãe faz bolinho de feijão e farinha: ela senta no sofá e divide a comida comigo, a Marta e a Mônica. Tomara que hoje ela faça isso. Fico triste e com vergonha porque eles não têm dinheiro para fazer a compra todo mês como Vó Jurema faz. Mas, mesmo assim, tenho orgulho de Minha Mãe”.

(...)

E lá se foram Teresa e seu filho para as compras "do dia". Já passava do meio-dia. Na volta, a mãe de Marquinhos parou com ele na lojinha de Dona Marisete.
- Tudo bem, Marisete. Quero um carrinho bem bonito pro Marquinhos – diz
Tereza. Enquanto fala, pisca pro filho e aperta a sua mão.
Dona Marisete põe no balcão um trenzinho à pilha hiper moderno e um carrinho de plástico com dois bonequinhos à la playmobil.
- Escolhe filho!
- Quanto custa esse trenzinho, heim?
- Vinte reais, Marquinhos. – disse Dona Marisete – É lindo, não é?
- É... e o carrinho?
- O carrinho custa seis reais.

“Nossa... e agora, qual eu vou escolher? Acho que vou levar o trenzinho. Nunca tive um brinquedo a pilha. O Pedrinho vai babar quando ver: - olha Pedro Bó meu brinquedo novo. Hehe. Mas é tão caro... Não, vou levar o carrinho. É maior e além disso custa menos... Mas o trem é tão bonito... Parece ser pesado. Se bem que eu vou querer desmontar. Eu desmonto todos os meus brinquedos. Minha mãe vai gastar uma grana com ele e eu vou quebrar. Não, não, vou levar o carrinho. Posso brincar à vontade com ele e com o dinheiro minha mãe não fica apertada.”
- Eu quero o carrinho – disse Marquinhos.
- Por que não quer o trem? – perguntou-lhe Teresa.
- Porque não dá sair correndo com ele.

Teresa sorriu. Dona Marisete sorriu. E Marquinhos correu pra pôr uma corda no carrinho e mostrar seu novo brinquedo para Pedrinho "Pedro Bó". "Acabei de dar um presente pra minha mãe... hehe", pensou.

O mundo é um moinho


quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Heim?!

Bem, eu não acredito em horóscopo. Não desses diários de jornais e sites. Mas, de vez em quando dá uma vontade mórbida de ler algo que não te dirá nada e você não entenderá pn. Enfim, compartilho meu horóscopo de ontem e hoje. Rezem por mim.

"Em muitos casos, uma atitude simples e direta seria mais eficiente do que subterfúgios e artimanhas. Todavia, a sua natureza é inclinada a complicar, e assim corre o risco de perder uma ótima oportunidade".

"É divertido brincar mentalmente com os acontecimentos, entortá-los até transformá-los em coisas diferentes, porém nesse caminho a sua alma corre o risco de perder o fio da meada e perder-se na trama que ela mesma inventou"

Traduzindo: Ontem, eu era uma pessoa sórdida e complicada. Hoje, estou a ponto de me tornar um maluco. Então, o que eu posso dizer? - Cuidado, eu sou um perigo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2004

Passamos como um rio...

... mas vale a pena cansarmo-nos, sim, Lídia

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


De Ricardo Reis

PS.: Enfim, pela primeira vez depois de Carnaval, vou curtir um feriado prolongado. A SEI - Síndrome de Escrava Isaura dá um tempo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

O que rolar é bom

O clima romântico, de “namorandos”, tomará conta da Concha Acústica do Teatro Castro Alves neste sábado, 09. É que o alagoano Djavan Caetano Viana, de 55 anos, estará em EsseEsseÁ, apresentando o show “Vaidade”, baseado em seu último CD. Eu vou. Afinal, tenho que me retratar. Pelo menos, um pouco. Explico.

Embora reconhecesse a genuína elegância e aura de sofisticação em torno de Djavan, eu só o ouvia pontualmente. Achava um nhém, nhém, nhém fofo, mas sem fim. Não tinha paciência. Depois, quando, segundo meu primo, eu fui serenando, comecei a gostar mais.

Criador de melodias simples e marcantes e inventor de palavras e rimas inusitadas (com imagens pra lá de peculiares), Djavan compõe músicas que colam feito chiclete no ouvido. Além, é claro, de serem excelentes para situações do tipo “namorando”, um mela cueca básico, onde os corações ficam "amolecidos": tem coisa mais legal que ouvir “Outono” ou “Mal de mim” ou um sambinha do tipo “Flor de Liz”? Ai, ai... Agora, não toquem perto de mim “Oceano” ou “Meu bem querer”. É broxante. Odeio com todas as minhas forças.

Com 28 anos de carreira, Djavan já vendeu mais 8 milhões de discos. Mas, o engraçado é que o estilo do artista é extremamente copiado, principalmente pelos cantores de barzinhos. De acordo com uma reportagem da Veja de 19 de julho, baseada em dados da Ecad, órgão responsável pela arrecadação dos direitos autorais no país, Djavan foi o compositor mais executado em botecos e casas noturnas de música ao vivo nos últimos três anos. Deixa para trás figuras como Caetano Veloso e Chico Buarque. Ainda segundo a matéria, muitos dos que sobrevivem com a renda do couvert artístico não se limitam a interpretar as músicas de Djavan: clonam o ídolo por inteiro, dos cabelos cacheados à voz de falsete. Um deles já ficou famoso.

O CD Vaidade é o décimo sexto trabalho do cantor romântico, primeiro trabalho pela sua gravadora Luanda Records. O que vai ter no show? Sete ou oito músicas do disco novo e os hits básicos e indispensáveis. Espero sobreviver. Acompanhado.

PS.: Tem gente que está reclamando do preço do ingresso. Realmente, pagar cinquentinha para assistir show sentado em arquibancada de cimento da Concha ou em pé (porque sempre tem gente na sua frente disposta a impedir sua visão) é um roubo. Mas, como em EsseEsseÁ quase que não se tem notícia de alguém que não tenha meia-entrada, o show fecha por R$ 25. Mas a reclamação é justa. Afinal, algum cidadão honesto pode estar saindo perdendo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2004

Eleição à la Gretchen

Eleição deveria ser um momento de reflexão, ocasião em que o povo brasileiro, tão sofrido e injustiçado, tem o poder de decidir, por meio do voto, o destino de sua cidade. Bem... deveria. Pelo menos na Bahia a tal obrigação, o tal dever cívico, se transformou em farra. Nos bairros mais populares (esses são os melhores para se cair na bagaceira), o que se viu foi um dia típico de festa de largo, ao som de arrocha/pagode e muita cerveja acompanhada de churrasquinho de gato. As praias ficaram lotadas. (Sim, sim, foi domingo. Mas o texto fica melhor se disser que as praias ficaram lotadas.) Então, vá lá: As praias ficaram lo-ta-das e o sol, escaldante. Resultado: a eleição salvou o domingo dele mesmo.

Eleição, pagode (arrocha) e cerveja em EsseEsseÁ. O povo no poder

Nesse sentido, não se viu um barzinho fechado em EsseEsseÁ ou alguém dentro de casa de banho-maria, esperando a segunda-feira chegar. E a Lei Seca? Heim? Os donos desses estabelecimentos e os consumidores alegavam tudo, principalmente o desconhecimento da lei com o ar mais inocente-cara-de-pau do mundo. Hoje, o dia é de ressaca na city.

Bem, essa foi a mais acirrada campanha eleitoral para a prefeitura da capital baiana. César Borges, do PFL, candidato de painho ACM, por pouco, ou mais especificamente, por cerca de três mil votos, não morre na praia. Derrotou Pelegrino, do PT, e está no segundo turno, onde enfrenta João Henrique (PDT), o grande vencedor da primeira fase. A barra vai ser pesadíssima: a oposição provavelmente (digo provavelmente porque de político pode-se esperar qualquer coisa) se unirá contra César. Para ser mais claro, contra painho. “Em Salvador, a dinastria Antônio Carlos Magalhães está seriamente ameaçada de extinção”, disse uma renomada colunista política.

E a Gretchen, heim?
No entanto, aqui, ali, acolá, em cima, em baixo, do lado, ______ (coloque no espaço qualquer advérbio de lugar), os principais personagens do dia foram, sem dúvida, os cabos eleitorais e a boca de urna. Alguém passou ileso a eles? Ganhando entre R$ 5 e R$ 20 em média (tudo gasto na própria farra), eles tomaram conta das ruas, “defendendo” seus candidatos (Haha. Gostei dessa frase. Defendendo candidato é ótimo, Alice), com santinhos, bandeiras e gritaria. Muita gritaria.

A maioria, naturalmente, era adolescente e criança. Em todo o Estado, 700 pessoas foram presas, segundo a assessoria da Polícia Militar. Mas, a notícia mais top dessas eleições foi a prisão da dançarina miss bumbum, Gretchen, agora rainha da boca de urna, que causou o maior tumulto na cidade de Senador Canedo, em Goiás.

Bônus track:
Apesar da folia instaurada, cenas chocantes puderam ser vistas nessas eleições: pais levando filhos para votar, deficientes superando a falta de infra-estrutura dos locais de votação para registrar sua opinião, idosos votando como se fosse a primeira vez, madames indo às seções com figurino caprichado, adolescentes com cara pintada, famílias inteiras, incluindo cachorro, seguindo alegremente ao local de votação. Impressionante.

Saudade

Ou: O que se há de fazer, não é mesmo?

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão

Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração

Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor

Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou

Meninos, ondas, becos, mãe
E, só porque não estás
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs

Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti

Mãe, de Caetano Veloso. Fiquei com Gal cantando isso ontem.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Reflexão # 6

“A gente tinha dado uns beijos, mas ainda não estava nada certo. Então, eu perguntei para Davi: ‘Você lê?’. Como ele titubeou, fui logo dizendo: ‘Eu não leio. Não vem com papo furado de Clarice Lispector que não cola!’. Aí ele confessou que também não curtia ler”.

Ivete Sangalo, a mais nova solteira do pedaço, em entrevista à revista Veja, que lhe “deu” três páginas de editorial (Pernas pra que te quero) na edição do dia 01/09. Na época, a cantora mais badalada do momento, contava, em determinado momento da "matéria", como iniciou namoro com Davi Moraes, agora seu ex.

Quando li a tal matéria, há alguns dias, inicialmente não acreditei. Mas, depois, achei tão fofa a declaração de Ivete... Ela é tão estrategicamente povo, não é mesmo? E povo, nós sabemos, não lê. Resultado: identificação mais pura e sincera com ela, um ídolo vencedor (apesar de não ler). Mas não é só: na esteira da declaração na Veja, veio a lembrança uma outra dela no carnaval desse ano de EsseEsseÁ, cujo tema foi “Viva o povo brasileiro” em homenagem a João Ubaldo Ribeiro. No Campo Grande, Ivete avista o escritor e diz animadamente para ele: “... eu nunca li seu livro, mas minha irmã leu e me disse que é muito bom... he-he”. He-he.

Bem... Poderia falar sobre a questão da importância da leitura na vida de uma pessoa ou então da influência de um ídolo no comportamento daqueles que o acompanham e o veneram. Mas não. Citei essa declaração de Ivete porque me chamou a atenção um tema implícito nas nossas relações cotidianas: os gostos e desgostos em comum que fazem com que as pessoas fiquem umas com as outras. Afinal, uma pessoa que lê saberá viver sob o mesmo teto com uma pessoa que não tenha a mínima intimidade com um livro e vice-versa? Ou isso só acontece em literatura? Hummm... acho que ficou muito específico isso. Vou ampliar.

Oscar Wilde, em De profundis, um texto do tipo soco-na-alma escrito enquanto estava na prisão, diz: “Basicamente, o diálogo é o único vínculo capaz de unir duas pessoas, seja no casamento ou na amizade. Mas para que haja diálogo, é necessário que existam interesses comuns. E, entre pessoas de nível cultural totalmente adverso, o único interesse comum só pode existir ao nível mais baixo. A simplicidade de pensamentos e ações pode, inclusive, ser encantadora... no início. Depois cansa”. Claro que ele diz isso a partir da ótica dele, um intelectual.

Mas, eu poderia citar diversas relações (que eu conheço, vejo ou pelas quais passei) em que o casal simplesmente não tem papo. Acabou o tesão, acabou a relação. Uma coisinha, assim, tipo balada, entende? Mas aí, por outro lado, quando você vê um casal super entrosado, percebe que existe um interesse comum em jogo. Não necessariamente a leitura ou a falta dela. Por isso, a fala de Ivete vai além da singela e educativa declaração. Tsc, tsc... Nesse sentido, é uma pena, já que, desse jeito, nosso caldo não daria certo por muito tempo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Bom negócio

Ou: Tudo graças ao acaso ou à greve dos bancários.
* Ler ao som de Bahia com H

Na quarta-feira, sete funcionários da Igreja do Bonfim, templo católico mais famoso da Bahia e um dos cartões-postais mais conhecidos da terrinha, foram presos acusados de estarem furtando o dinheiro que os fiéis depositavam nos nove cofres instalados no local. A estimativa da polícia é de que o golpe tenha desfalcado a Igreja em mais de R$ 30 mil em 10 anos de ação.

A quadrilha - formada por zeladores, restauradores e ornamentadores - usava um arame em forma de anzol para retirar as cédulas pelo orifício dos cofres. Enquanto um fazia a “pesca”, os outros ficavam do lado de fora vigiando as entradas da igreja. Básico. Tudo começou com um que trabalhava no local há cerca de 20 anos. Sozinho, ele retirou aproximadamente sete mil reais.

Aí, um belo dia, um outro viu a “arte” do primeiro esperto. Pronto: também quis dar um tapa no dindin, caso contrário abriria o bico. E aí, um outro também viu e blá, blá, blá. Na base do ou-você-me-dá-ou-eu-conto, todo dinheiro furtado era dividido em partes iguais, sendo que a sexta-feira era o melhor dia para faturar. Só para se ter uma idéia, ao final dela, cada um ficava com aproximadamente R$ 400. Nada mal para quem ganhava um salário mínimo em carteira assinada.

Igreja do Bonfim e suas famosas fitinhas, que demoram horrores para partir

E como foram descobertos? Na semana passada, um empresário, devoto do Senhor do Bonfim, doou R$ 10 mil em dinheiro à Igreja. Como a greve dos bancários impediu que o tesoureiro depositasse essa dinheirama toda na conta da irmandade, ele decidiu colocar as cédulas no cofre para tentar fazer o depósito na segunda passada, 27. Quando o bendito abriu novamente cofre para pegar os R$ 10 mil, notou a falta de uns três mil. Chamou a polícia. E a farra acabou.

Ao saber da notícia, ficou uma dúvida: O dinheiro retirado pelos sete rapazes não era, tipo assim, nem sentido pela Igreja. Pelas minhas contas, em uma sexta-feira, era pescado dos cofres cerca de R$ 2.800. Ninguém nunca percebeu? Precisou algo bastante explicito acontecer para alguém fazer alguma coisa? Sei não... Tudo isso só me faz pensar que religião é o "negócio" mais rentável nos dias de hoje. Ou sempre foi?

quarta-feira, 29 de setembro de 2004

De camarote

Ontem, os jornais nacionais Rede Globo exibiram imagens de um cinegrafista amador que registrou um grupo de pessoas atacando e roubando turistas na praia do Leblon, no Rrrrio. A “gangue” ou “quadrilha” era formada por cerca de 50 pessoas, entre elas mulheres e crianças. Fizeram o famoso “arrastão”.

A cena, já conhecida de outros tempos, é, no mínimo, chocante. E, embora eu esteja vendo tudo de camarote, me incomoda. Óbvio. Ter que sentir eternamente a dor de uma ferida que não quer cicatrizar (Ou não querem fazê-lo) é dose para mil leões. Além disso, notar a polícia, novamente, mais uma vez, agindo tonta e burocraticamente é irritante. Haja paciência e carnaval.

Apesar de, o Rrrrio continua sendo. Mas, até quando?

EsseEsseÁ ainda não chegou a esse ponto. O que não significa dizer que as praias de cá sejam tranqüilas. Não são. Mas ainda dá pra chegar no Porto da Barra (um exemplo), dizer algo do tipo “Ô, não sei quem. Tudo bem? Dá pra dar uma olhadinha nas minhas coisas enquanto eu vou na água?", voltar e encontrar suas "coisas" no mesmo lugar. É bom esclarecer que isso não é uma comparação.

E aí, até quando essa situação continuará assim?

segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Festa dos erês - Parte II

Cena 1
Minha avó, sentada em uma cadeira, no centro da sala, observando tudo com uma bengala na mão.
- Minha avó, quem são essas pessoas?
- E eu sei lá! - Me diz bem alto. Depois, baixa a voz e me fala ao pé do ouvido, indignada: - Adélia (uma agregada que vive há 37 anos com ela, ou seja, minha tia) convidou uma menina aí e ela trouxe uns cinco amigos junto. A outra (Ana) também chamou outra aí, que também trouxe uma gangue.
- Mas tá tudo bem, né?
Dá de ombros.
- Nossa, esses meninos não param de correr, né?
- Dez horas eu faço eles pararem.
- Essa é minha vó, he-he.

Cena 2
Minha avó, circulando pela casa, vendo o-que-está-acontecendo.
- An-ran... achei a senhora! Acabaram de me apresentar a uns parentes lá fora.
- Ah, é uma filha e alguns netos de meu irmão. Vieram de Sergipe.
- Sergipe? Engraçado, eu não conhecia. A senhora teve quantos irmãos mesmo?
- Perái... – Começa a contar nos dedos – Estefânia, Edith, Santos, Petrônio...
- Mas era tudo isso?
- É... Zezé, Messias, Maria Augusta...
- Humm... Como era mesmo o nome de minha bisavó?
- Eulina. E de seu bisavô era Augusto.
- ...
- ... Zefinha, Dete...
- Tá, tá... Olha, já vou logo dizendo que se eu ficar rico, não quero ninguém na minha porta, tá?

Cena 3
Uma velhinha vem em minha direção
- A quanto tempo... Você se lembra de mim?
- He-he... – Faço cara de que estou tentando me lembrar.
- Eu sou Nicinha, mãe de Adélia.
- Ahhhhh... Nicinha... Como vai?
- Nossa como você cresceu... troquei suas fraldas, te dava banho, te levava pra missa. Desde pequeno bonito... Deve tá aprontando, heim?
- He-he. Hoje já não vou mais a missa, mas apronto que é uma beleza.
Passa um tempo.
- Você se lembra de mim?
- heim??
- Você é filho de Zé, não?
- Não. Sou filho de José Augusto. Mas, você é Nicinha, mãe de Adélia, não é?

Cena 4
Festa de Família. Um porre. Estou de ressaca. Mesmo assim, digo: antes tê-los do que perdê-los.